O IRMÃO PEREGRINO


Procurai e encontrareis. Batei e sereis atendido. Pedi e recebereis.” (Luc 11:9, Mat.7:7)
É sabido entre os Maçons que existem direitos e obrigações dentro da Ordem, conforme consignado no Estatuto e Regulamento da Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, além do contido no Regimento Interno da Loja a que pertencem como nas demais Lojas irmãs congêneres de outras jurisdições.
Vale sempre ressaltar que todos os Maçons têm o direito de participar dos trabalhos de Lojas regulares, devendo-se observar o rigor disciplinar prescrito para os perfeitos conhecedores da dinâmica aplicada no telhamento, envolvendo, inclusive, os requisitos de apresentação dos documentos de identidade maçônica e civil, mensalidade atualizada e palavra semestral ou de convivência, dependendo da Obediência a que pertença.
Vencida a barreira inicial de reconhecimento cautelar que o ato encerra, tanto da parte de quem recebe, quanto daquele que visita, em especial no que se refere à legalidade da Loja visitada, cabe ao peregrino seguir os conselhos sempre repisados de manter postura sempre altiva, sóbria e discreta, observando o silêncio no que couber e manifestando-se quando cabível e no momento adequado, de acordo a ritualística aplicada à Loja e ao Rito seguido.
Nesse aspecto, além de ser um direito que assiste ao Maçom regular, a visitação é um dos mais antigos costumes maçônicos e está vinculada à teoria de que todas as Lojas são apenas divisões da “Fraternidade Universal”.

Historicamente, o direito em questão está embasado no eterno e imutável 14º Landmark, dentre os 25 colecionados pelo irmão Alberto G. Mackey, que assim se apresenta:

O direito de todo Maçom visitar e tomar assento em quaisquer Lojas é um inquestionável Landmark da Ordem. É o consagrado direito de visitar que sempre foi reconhecido como um direito inerente que todo irmão exerce quando viaja pelo Universo. É a conseqüência de encarar as Lojas como meras divisões, por conveniência, da Família Maçônica Universal.”

A história da Maçonaria já relata essas visitas como um costume dos mais antigos e mais amplamente praticados da Maçonaria Simbólica. No trabalho do Irmão Ken Anderson, Guia do Maçom Viajante – Orientações para um Maçom Viajante -, relata-se que “em tempos operativos, bem antes do surgimento da maçonaria especulativa como a conhecemos hoje, os pedreiros eram trabalhadores itinerantes que se viam forçados a viajar para renovar seu emprego à medida que cada projeto de construção fosse concluído. Este caráter fluido da Maçonaria Operativa levou à formação de sociedades comerciais, conhecidas como Lojas, para proteger a integridade de seu ofício, e para melhorar as práticas morais e sociais dos seus membros”.

É bom que se diga que a visitação não é somente recomendada aos jovens maçons, como se costuma ouvir e sim uma necessidade de todos os obreiros, pois a troca de experiências com outros irmãos, a observação da forma de atuar de cada Loja, a sua estrutura, os ritos e ritualísticas diferenciados, sempre agregam informações e enriquecem nossa caminhada maçônica.
Por vezes, grandes surpresas ocorrem, em especial quando se reconhece uma pessoa amiga que não imaginávamos pertencer à Ordem e as novas amizades que se iniciam, com a reciprocidade decorrente dos convites trocados, proporcionando, além de uma expansão do círculo de relacionamento maçônico, o fortalecimento do processo de capilaridade que deve também ser uma das características das relações entre os seus membros.
Ensinam os irmãos mais experientes que nunca é exagerado relembrar que, ao visitar Lojas de outros ritos, devem-se respeitar as regras sociais e seguir as orientações regulamentares da mesma. “Não importa se na sua Loja o certo é assim ou assado”, asseveram. Os “bons costumes”, que todo Maçom deve observar, ditam que, “na casa dos outros, você tem que dançar conforme a música”. Como muito bem ensina o ditado: “Quando em Roma, faça como os romanos”.

Por outro lado, é previsto no 15º Landmark que a um visitante já conhecido de algum irmão do Quadro lhe seja concedida a permissão para entrar conjuntamente com os membros, cabendo ao Mestre de Cerimônias indicar o local de assento. Quando se tratar de Venerável Mestre ou Mestre Instalado, serão estes conduzidos ao Oriente onde têm assento de praxe.

Na Prancha nº 217, intitulada “Como visitante e com o Visitante”, o irmão Sérgio Quirino Guimarães recomenda que, “quando for fazer uma visita, procure saber se nos trabalhos da Oficina é permitido o uso de Balandrau (alguns ritos não reconhecem esta vestimenta). Sendo Aprendiz ou Companheiro, antes da sessão pergunte para algum Irmão se a Pal.’. a Bem da Ord.’. é franqueada a manifestação de todos ou somente para M. M.”.

Ainda sobre a visitação, cabe destacar que muitas Lojas têm como projeto de incentivo a concessão da “Medalha Irmão Peregrino” àqueles obreiros que visitam o maior número de Lojas no ano. Tal medida se reveste de significativa importância, pois estabelece uma sadia competição entre os irmãos, notadamente entre aqueles que ainda desbastam a pedra bruta, acelerando o processo de aprendizagem da ritualística, além de despertar o interesse pelo aperfeiçoamento da caminhada, pelos novos desafios representados pelas conquistas dos Graus Filosóficos e outros Ritos.

Como sabemos tal prática não é dominante, pois a tendência ao acomodamento ao se atingir o Grau três é sobejamente decantado. Mesmo naquelas Lojas que incentivam a peregrinação, como fator de desenvolvimento, ainda encontramos à sombra das colunas dos Templos obreiros que não defendem tal prática, chegando, à vezes, a questionar a validade deste ou daquele comprovante de visitação incluído na Bolsa de Propostas e Informações, que funciona como o correio da Loja, sob o argumento de somente são válidas apenas as visitas às Lojas Simbólicas, desconhecendo a grandeza dos Graus Filosóficos, defendendo uma separação de corpos além do administrativo competente, corrompendo o conceito de “Família Maçônica Universal” a que se refere o 14º Landmark supracitado.

Até este ponto, nenhuma novidade que altere a ordem dos fatos. Porém, cabe-nos refletir como tem sido nossa relação com os irmãos visitantes, no sentido de construir uma boa impressão e não ter o desgosto de ver a imagem da Loja sendo denegrida por falhas nos procedimentos de acolhimento daquele obreiro que está na plenitude do exercício de seus direitos.
Fazer progressos na Maçonaria e estreitar os laços de fraternidade que nos unem como verdadeiros irmãos é mandamento a ser observado por todos os que são escolhidos e acolhidos pela Ordem. Portanto, a postura recomendada é a de receber bem os visitantes nos trabalhos em Loja e em eventos promovidos pela mesma, tratando-os com cordialidade e consideração, para que se sintam bem e reconhecidamente entre irmãos. Assim procedendo, a boa impressão causada será motivo de visitas futuras e recomendação a outros irmãos.
Internamente em nossas Lojas, é forçoso reconhecer que alguns cuidados devem se constituir em hábito, como o de cumprimentar a todos quando se chega e não apenas reservar atenção para uns poucos selecionados. Isso é sempre captado pelos irmãos mais atentos e, às vezes, motivo de comentários negativos.
Quando se chama a atenção de algum mais distraído, soa familiar o argumento da correria do dia-a-dia, da falta de tempo e outros na mesma linha de argumentação. Costuma-se o comportamento repetir-se no encerramento dos trabalhos, e muitos saem apressadamente sem se despedir.
Podemos concluir que os trabalhos não atingiram o objetivo de restabelecer o equilíbrio e a harmonia que sempre se espera. Como a compreensão e a tolerância são virtudes que cultuamos, não ficam arestas e a vida continua, na esperança de dias melhores.
De outra forma, quando chegamos à Oficina e olhamos os irmãos nos olhos, trocando uma palavra amiga e um fraterno abraço, a comunhão é perfeita e os trabalhos se mostram revigorantes, cumprindo a essência do Salmo 133.
Agora, imaginemos essa mesma postura de indiferença em relação a um irmão visitante. Passado o procedimento de reconhecimento, o mesmo é encaminhado a um canto e lá permanece com a indiferença dos demais.
Muitas vezes, na oportunidade em que se poderia valorizar o fato e citar-se o nome do visitante e sua Loja, o Orador cai na armadilha do genérico e sumário agradecimento, ao amparo do argumento do famigerado adiantado da hora. Se o peregrino estiver à procura de uma nova Loja para se filiar, em face de mudança de domicílio, por razões profissionais ou outro motivo, essa visitada, como alternativa, já estará descartada.
Ainda temos a situação de algumas Lojas que promovem uma ágape após as reuniões de trabalho e, alegremente, os irmãos se agrupam conforme as preferências e continuam as discussões interrompidas no encontro anterior.
É objeto de comentários que muitos nem se lembram de dar atenção ou ao menos convidar o visitante para compartilhar daquele momento. Outros até acreditam que o visitante já foi com a intenção de pegar uma “boquinha livre” e se fazem de desentendidos ou simulam outros afazeres. É muito triste essa constatação.

Realmente, falta muita aresta a ser aplainada e muito progresso a ser feito nesse estágio terreno e primitivo da evolução espiritual. Como sempre ouvimos alhures, “é preciso muito amor e persistência para quebrar a ‘casca grossa’ que envolve milhares e milhares de corações”.

Educação e cortesia são valores que trazemos de berço e, por vezes, tornam-se obstáculos a serem enfrentados e grande desafio para a Ordem.

Nunca é demais recorrer ao “Livro da Lei” e refletir sobre a passagem contida em Marcos 6, 10- 11: “Quando entrardes numa casa ficai nela até irdes embora. Se em algum lugar não vos receberem nem vos escutarem, ao sairdes de lá, sacudi a poeira dos pés em protesto contra eles”.

Em princípio, trata-se de uma ordem interessante que Jesus deu a seus discípulos e que podemos agregar aos nossos valores. Mas, antes é preciso entender a mensagem de amor e de perseverança envolvidos, quando o Mestre mostra para os seus discípulos a necessidade de se desvencilharem da carga emocional negativa que tal situação possa ter causado.

A estratégia em questão é deixar para trás todo sentimento de rancor decorrente da experiência. Isto é, deixar pra trás o que nos impede de vencer nossas paixões e fazer progressos, prosseguindo confiantes e leves por novos caminhos, como livres pensadores, formadores de opinião e construtores sociais, como todo bom Maçom.

Obrigado pela visita e seja sempre bem-vindo, meu irmão!
Transmita aos irmãos de sua Loja nosso fraterno abraço!
Brevemente, retribuiremos a visita!
“Na vida, tudo que é raro é surpreendente. Educação, por exemplo.” (Marcio Kühne)
Autor: Márcio dos Santos Gomes
Márcio é Mestre Instalado da ARLS Águia das Alterosas – 197 – GLMMG, Oriente de Belo Horizonte, membro da Escola Maçônica Mestre Antônio Augusto Alves D’Almeida, da Academia Mineira Maçônica de Letras.

PALAVRA MAÇÔNICA


A “palavra maçônica” é um compromisso de honra efetuado pelo neófito quando tem contacto com os Mistérios da Arte Real. No qual ele se compromete a honrar e dignificar a Maçonaria, bem como em guardar segredo do que vir ou tomar conhecimento em sessão ritualista maçônica.

E como tal, nada mais é importante para o maçom do que respeitar a sua palavra, a sua palavra dada, a sua palavra de honra.

Sendo por isso, que uma das suas obrigações é a de ser um homem de bons costumes. Alguém que é honrado e vive sob bons preceitos morais.

Quando um maçom se compromete com algo, ele o cumpre ou o faz por cumprir, porque é a sua palavra que fica em questão. Se não o fizer, a sua credibilidade perante os seus irmãos e porventura demais profanos, será posta em causa, correndo o sério risco de ficar descredibilizado, e assim não poder viver da forma honrada como assim o deve fazer.

Essa palavra vale mais que “mil assinaturas”, pois jamais poderá ser rasurada ou apagada. Quando ela é assumida, ela torna-se um compromisso para a vida do maçom. Tanto que a sua palavra deverá ser “eterna e imutável”. Logo será sempre um dever a ser cumprido!

Por isso, um maçom quando assume um compromisso ou quando opina sobre determinado tema ou matéria, tem de ter o cuidado e a parcimônia necessária. Pois com a sua opinião também pode ele pôr em causa a Maçonaria na sua generalidade.

Normalmente quando alguém opina publicamente, apenas essa opinião o vincula a ele próprio. Mas em Maçonaria isso é diferente. E diferente porque, quando um maçom opina na via pública, as suas afirmações encontram um eco desproporcionado por vezes em relação ao que afirma. E tudo fruto do que a sua imagem enquanto maçom suscitar. 

A curiosidade sobre o que se passa no interior da Maçonaria é tão grande por parte dos profanos, que isso origina um excesso de “ruído” que majoritariamente causa um impacto negativo na Ordem em si. E é por isso que um maçom deve ser reservado quanto ao que opina como opina e onde exerce a sua opinião. 

Aliás, se existe alguém que falará pela Obediência em si, serão apenas o Grão-Mestre e o Grande Orador, os restantes Irmãos apenas poderão opinar, mas vinculando-se apenas a si próprios nas afirmações proferidas.

Já na vida interna das Obediências Maçônicas, as palavras dos irmãos são muito bem-vindas, isto é, cada um (exceto se em sessão litúrgica, os Aprendizes e Companheiros se abstêm de falar) é livre de opinar sobre o que quiser, respeitando apenas as regras impostas pela Obediência, seja no cumprimento dos Landmarks (no caso de Obediências Regulares) seja no cumprimento do seu Regulamento Geral.

Resumindo, o segredo que existe na palavra de um maçom, encontra-se à vista de todos. É apenas se tomar atenção ao que diz e como o diz.


Rui Bandeira – A Partir Pedra

PALAVRAS DEVEM SER MAIS QUE PALAVRAS


“Levantam-se templos à virtude e cavam-se masmorras ao vício”

A Maçonaria tem certos procedimentos que, muitas vezes, passam despercebidos em seu conteúdo à maioria dos Irmãos, no que concerne à alta significância do que representam. Um exemplo disso é o enunciado acima. 

Respondido durante o episódio do telhamento, as palavras deveriam tocar profundamente quem as pronuncia e quem as ouve, mas elas se perdem no vácuo das sensibilidades, sem que se aperceba da profunda exortação expressada.

Aliás, esse fato é comum na Maçonaria atual.

As palavras são ditas apenas pelo aparelho fonador de quem fala e registradas no aparelho auditivo de quem ouve. São apenas registros físicos que não motiva quem fala ou quem ouve. Para que as palavras surtam o efeito esperado e desejado elas necessitam ser sentidas, tocar o sentimento, o íntimo da pessoa, causando motivação, que transforma comportamentos.

Tudo que penetra em nossos sistemas, pelos órgãos dos sentidos comuns, só conseguirá causar transformação se produzir sentimento motivador. Os fatos indiferentes são inócuos. A repetibilidade de um fenômeno indiferente causará habituação e/ou extinção da resposta  provocada inicialmente. Esse preceito é bem conhecido nas ciências biológicas.

A repetição continuada e desmotivada de nossas sessões cria o efeito da habituação ou extinção do sentimento de transformação nos ouvintes das palavras do ritual. Por isso, em nossas sessões maçônicas, o que se diz deveria ser recebido com motivação interior. 

Para isso acontecer, o maçom necessita estar interessado no desenrolar dos diálogos dos trabalhos e não apenas marcar presença para não se tornar irregular em Loja. Cada palavra que se diz nessas sessões não são palavras vãs. Elas possuem forças concentradas, em sua expressão, que transformam o ouvinte interessado num verdadeiro maçom, transmutando vícios em virtudes.


A história nos mostra que líderes da humanidade, para o bem ou para o mal, transformavam as multidões em aríetes de seus desejos, pela força de sua eloquência.

As palavras faladas com sentimento atingem a quem ouve com a energia de quem fala.  Daí a grande importância do Venerável dirigir os trabalhos com o sentimento na voz e não apenas com a voz da palavra. Se assim proceder, os seus comandados recebem uma parcela de sua energia interior, tanto maior, quanto maior for sua força moral.

Os trabalhos se tornarão mais agradáveis, por mais que se tornem rotineiros, pois, cada sessão nunca será igual a anterior, porque estará acrescida de maior vigor, pela somatória das energias passadas e presentes. Os maçons, por seu turno, se começarem a ouvir sentindo as palavras, irão meditar no seu significado moral com maior interesse em vivenciá-las, pois que acordará do sono letárgico em que se encontram.

É claro que tudo isso depende da vontade interior de cada um em ser ou em se tornar um bom e legítimo maçom.

Levantam-se templos à virtude” – são belas palavras de exortação. O seu significado não é literal, bem o sabemos. É dever do maçom o cultivo das forças morais, o exercício dos abstratos substantivos tais como paciência, amor, caridade, humildade, perdão, amizade, sinceridade, tolerância, etc., tornando-os concretos adjetivos do maçom. Não podem ser apenas exortações doutrinárias ou religiosas, como alguns imaginam. 

Para o maçom são comandos interiores que operam a transformação de seu comportamento profano. A Ciência tem provado que o exercício dessas virtudes gera energias positivas nas pessoas, que podem modificar seu estado patológico em estado fisiológico ou sadio, enfim curar doenças.

Esse estado energético interior tem a dimensão do tamanho da vontade do indivíduo. 

A expressão também indica ao maçom que deverá realçar as virtudes encontradas nos Irmãos e não evidenciar os seus defeitos ou vícios na maledicência comum. Se o Irmão apresenta um defeito moral o exercício da virtude nos manda ajudá-lo na sua transformação, usando os meios de que dispomos e os que sejam necessários para essa tarefa. 

Levantar templos à virtude também está presente quando nos esforçamos para manter a harmonia do lar, onde exercitamos a tolerância, o perdão, a compreensão e, sobretudo o amor.

Quando trabalhamos para minorar a ignorância e o sofrimento da sociedade também estamos levantando templos à virtude, pois, ela é a extensão do nosso lar.

O objetivo basilar da Maçonaria é promover a evolução moral do maçom, para que ele, moralizado, seja o agente multiplicador dessa moral, na sociedade em que se encontra inserido.

Não só agente verbalizador da moral, mas também, e mais importante, um silencioso vivenciador dela, porque o exemplo vale por mil palavras. O levantar templos à virtude toca profundo o ser-maçom, mas se torna apenas belas palavras no estar-maçom.

Cavam-se masmorras ao vício”- é o corolário do “levantam-se templos à virtude”. Acabar com os vícios significa extinguir o ódio, o rancor, a vingança, a mágoa, a maledicência, a intransigência, a vaidade, o orgulho, o egoísmo, a prepotência, o comodismo, etc., e tantos outros defeitos morais.

Os concretos vícios orgânicos como a glutonaria, a sexolatria, a dependência de drogas, jogos de azar, alcoolismo são também alvos da artilharia maçônica, porque são escravizadores do homem. O princípio basilar da liberdade não é apenas o físico, mas também moral e psíquica.

Vício é tudo que degrada o ser humano, portanto, as masmorras são símbolos que nos diz para enterrarmos nossos defeitos, antes que eles nos enterrem (no amplo sentido do termo). Não é fácil realizar isso, porque o prazer que nossos vícios produzem em nós é uma enorme força a nos prender. Esse prazer é tão real que nos entorpece a consciência e passamos a não senti-lo como vício. Se alguém assim o diz, duvidamos ou buscamos as devidas desculpas ou explicações para manter-los.

Entretanto, tocados pelo sentimento maçônico da transformação moral, desenvolvemos uma energia interior para desalojar esses vícios, grandes ou pequenos, de nosso ser. Essa energia a aurimos principalmente durante as sessões ou trabalhos maçônicos, quando comparecemos a eles com a motivação da autotransformação.

 Essa força de vontade, desenvolvida pela vontade de fazer força, é o instrumento de burilar a pedra bruta, que somos nós próprios.

Quando os maçons se conscientizarem e entenderem o significado moral de cada palavra que se diz em Loja, durante seus trabalhos, e passarem a vivenciá-las no dia a dia, veremos que nos tornamos uma poderosa força de transformação do mundo em todos os sentidos. 

A expressão “Educa-te a ti mesmo que o mundo se educará” não é expressão apenas das escolas propriamente assim configuradas, mas de todos que trabalham para a evolução da humanidade.


Autor: Joaquim Tomé de Souza
Membro da ARLS Luz e Saber, 2380  – Oriente de Goiânia – GO


A HISTÓRIA DO COMPANHEIRO MAÇOM

Doutrinariamente, o grau de Companheiro é o mais legítimo grau maçônico, por mostrar o obreiro já totalmente formado e aperfeiçoado, profissionalmente.

Historicamente, é o grau mais importante da Franco-Maçonaria, pois sempre representou o ápice da escalada profissional, nas confrarias de artesãos ligados à arte de construir, as quais floresceram na Idade Média e viriam a ser conhecidas, nos tempos mais recentes, sob o rótulo de “Maçonaria Operativa”, ou “Maçonaria de Ofício”.

Na realidade, antes do século XVIII havia apenas dois graus reconhecidos na Franco-Maçonaria: Aprendiz e Companheiro. Na época anterior ao desenvolvimento da Maçonaria dos Aceitos ou Especulativa, o Companheiro era um Aprendiz, que havia servido o tempo necessário como tal e havia sido reconhecido como um oficial, um trabalhador qualificado, autorizado a praticar seu ofício.

Na Idade Média, quando as construções em pedra eram comissionadas pela Igreja, ou pelos grandes reis, duques ou lords, a Maçonaria operativa era um lucrativo negócio ; ser reconhecido, portanto, como um Companheiro pelos operários era um passaporte seguro para uma participação no negócio e para uma renda praticamente garantida. Graças a isso, os mestres da obra eram escolhidos entre os Companheiros mais experientes e com maior capacidade de liderança ; e só exerciam as funções de dirigentes dos trabalhos, daí surgindo o Master da Loja, o qual, pelas suas funções e pelo respeito que merecia de seus obreiros, viria a ser o Worshipful Master - Venerável Mestre - o máximo dirigente dos trabalhos.

O grau de Mestre Maçom só surgiria em 1723 depois da criação, em 1717, da Primeira Grande Loja, em Londres e só seria implantado a partir de 1738. Por isso, o grau de Companheiro foi sempre o sustentáculo profissional e doutrinário dos círculos maçônicos, não se justificando a pouca relevância que alguns maçons dão a ele, considerando-o um simples grau intermediário.

Autores existem, inclusive, que afirmam que na fase de transição da Maçonaria, ele era o único grau, do qual se destacaram, para baixo, o grau de Aprendiz, e, para cima, o de Mestre. Na realidade, não pode ser considerado um maçom completo aquele que não conhecer, profundamente, o grau de Companheiro.

A palavra Companheiro é de origem latina.                                                                      

O seu significado tem provocado controvérsias quanto à sua etimologia, pois alguns autores sustentam que ela seria derivada da preposição cum = com e do verbo ativo e neutro pango (is, panxi, actum, angere) = pregar, cravar, plantar, traçar sobre a cera e no sentido figurado escrever, compor, celebrar, cantar, prometer, contratar, confirmar.

Neste caso, especificamente, pango teria o sentido de contrato, promessa, confirmação, fazendo com que a expressão cumpango que teria dado origem à palavra Companheiro signifique com contrato, com promessa, envolvendo um solene compromisso, que teria orientado as atividades das companhias religiosas e profissionais da Idade Média e do período renascentista.

A origem mais aceita, todavia, é outra: o termo Companheiro é derivado da expressão cum panis, onde cum é a preposição com e panis é o substantivo masculino pão, o que lhe dá o significado de participantes do mesmo pão. Isso dá a idéia de uma convivência tão íntima e profunda entre duas ou mais pessoas, aponto destas participarem do mesmo pão, para o seu nutrimento.

Essa origem, evidentemente, deve ser considerada nos idiomas derivados do latim: compañero (castelhano), compagno (italiano), compagnon (francês), companheiro (português). A Enciclopédia Larousse, editada em Paris, por exemplo, registra o seguinte, em relação aos vocábulos compagnon e compagnonnage: Compagnon - n.m. (du lat. cum = avec, et panis = pain) - Celui que participe à la vie, aux occupations d’un autre: compagnon d’études. Membre d’une association de compagnonnage. Ouvrier. Ouvrier qui travaille pour un entrepreneur (par opos a patron). Compagnonnage - n.m. - Association entre ouvriers d’une même profession à des fins d’instruction professionelle et d’assistence mutuelle. Temps pendant lequel  l’ouvrier sorti d’apprentissage travaillait comme compagnon chez son patron. Qualité de compagnon. 

Ou seja:
Companheiro - substantivo masculino (do latim cum = com, e panis = pão) - Aquele que participa, constantemente, das ocupações do outro: condiscípulo, companheiro de estudos. Membro de uma associação de companheirismo. Operário que trabalha para um empreiteiro.

Companheirismo - substantivo masculino - Associação de trabalhadores de uma mesma profissão, para fins de aperfeiçoamento profissional e de assistência mútua. Tempo durante o qual o operário saído do aprendizado trabalhava como companheiro, em casa de seu patrão. Qualidade de companheiro.
                                                                         
 Nos idiomas não latinos, os termos usados têm o mesmo sentido. Em inglês, por exemplo, o Companheiro, como já foi visto, é o Fellow, que significa camarada, par, equivalente, correligionário, membro de uma sociedade, conselho, companhia, etc.
Daí, temos as palavras derivadas, como: fellow laborer = companheiro de trabalho; fellow member = colega; fellow partner = sócio; fellow student = condiscípulo; fellow traveler = companheiro de viagem; e fellowship = companheirismo.

Não se deve, todavia, confundir o grau de Companheiro Maçom, ou o Companheirismo maçônico com o Compagnonnage - associações de companheiros - surgido na Idade Média, em função direta das atividades da Ordem dos Templários, e existente até hoje, embora sem as mesmas finalidades da organização original, como ocorre, também, com a Maçonaria.

O Compagnonnage foi criado porque os templários necessitavam, em suas distantes comendadorias do Oriente, de trabalhadores cristãos ; assim organizaram-nos de acordo com a sua própria doutrina, dando-lhes um regulamento, chamado Dever.

E esses trabalhadores construíram formidáveis  cidadelas no Oriente Médio e, lá, adquiriram os métodos de trabalho herdados da Antigüidade, os quais lhes permitiram construir, no Ocidente, as obras de arte, os edifícios públicos e os templos góticos, que tanto têm maravilhado, esteticamente, a Humanidade.

O Compagnonnage, execrado pela Igreja, porque tinha sua origem na Ordem dos Templários, esmagada no início do século XIII, por Filipe, o Belo, com a conivência do papa Clemente V, acabaria sendo condenado pela Sorbonne. Esta, originalmente, era uma Faculdade de Teologia, já que fora fundada em 1257, por Robert de Sorbon, capelão de S. Luís, para tornar acessível o estudo da teologia aos estudantes pobres.

E a condenação, datada de 14 de março de 1655, contendo um alerta aos Companheiros das organizações de ofício (os maçons operativos), tinha, em relação às práticas do Compagnonnage, o seguinte texto: 
“Nós, abaixo assinados, Doutores da Sagrada Faculdade de Teologia de Paris, estimamos:

1. Que, em tais práticas, existe pecado de sacrilégio, de impureza e de blasfêmia contra os mistérios de nossa religião;

2. Que o juramento feito, de não revelar essas práticas, mesmo na confissão, não é justo nem legítimo e não os obriga de maneira alguma ; ao contrário, que eles se obrigam a acusar a si mesmos desses pecados e deste juramento na confissão;

3. Que, no caso do mal estar continuar e não possam eles remediá-lo de outra forma, são obrigados, em consciência, a declarar essas práticas aos juízes eclesiásticos; e da mesma forma, se for necessário, aos juízes seculares, que tenham meios de dar remédio;

4. Que os Companheiros que se fazem receber em tal forma assim descrita não podem, sem incorrer em pecado mortal, se servir da palavra de passe que possuem, para se fazer reconhecer Companheiros e praticar os maus costumes desse “Companheirismo” ;

5. Que aqueles que estão nesse Companheirismo não estão em segurança de consciência, enquanto estiverem propensos a continuar essas más práticas, às quais deverão renunciar;

 6. Que os jovens que não estão nesse “Companheirismo”, não podem neles ingressar sem incorrer em pecado mortal.
 Paris, no 14° dia de março de 1655”. 

Nada a estranhar! Era a época dos tribunais do Santo Ofício, da “Santa” Inquisição.

Para finalizar, é importante salientar que muitos dos símbolos do grau de Companheiro Maçom os quais tanto excitam a mente de ocultistas - foram a ele acrescentados já na fase da Maçonaria dos Aceitos, pelos adeptos da alquimia oculta, da magia, da cabala, da astrologia e do rosacrucianismo , já que os obreiros medievais, os verdadeiros operários da construção, nunca adotaram tais símbolos, limitando-se às lendas e aos mitos profissionais.

Eram, inclusive, adversários das organizações ocultistas, combatidas pela Igreja, à qual eles eram profundamente ligados, pois dela haviam haurido a arte de construir e mereciam toda a proteção que só o clero católico poderia dar, numa época em que o poder maior era o eclesiástico. 

Com o incremento do processo de aceitação, a partir dos primeiros anos do século XVII, as portas das Lojas dos franco-maçons foram sendo abertas não só aos intelectuais e espíritos lúcidos, que foram responsáveis pelo renascimento europeu, mas, também, a todos os agrupamentos místicos e às seitas existentes na época. 

Isso iria provocar uma verdadeira revolução nas corporações de ofício e iria começar a delinear a ritualística especulativa do grau, baseada em símbolos místicos e nas doutrinas ocultistas, principalmente na Cabala e na Alquimia Oculta.


BIBLIOGRAFIA
Do nosso Valoroso Mestre que nos enriquece com suas obras José Castellani
Do livro: “Cartilha do Grau de Companheiro”
A/D

A LOJA PERFEITA


Parece-me que o sonho de qualquer Loja Maçônica é fazer valer o que diz o Salmo 133:

“Oh quão bom e quão suave é, que os irmãos vivam em união! É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes. Como o orvalho de Hermom, e como o que desce sobre os montes de Sião, porque ali o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre.” 

A elevação do grau de consciência da excelência do AMOR fraternal descrito nas palavras acima alcança todos, não escapa ninguém dessa Lei Universal. O que sair fora disso é desarmônico, prejudicial. É a força cega que fere de morte a Loja, a filha de Sião.

A Loja unida é como um corpo: quando um padece, todos padecem; quando um chora, todos choram; quando um se alegra, todos se regozijam. Porque nessa Loja o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre! O óleo precioso do AMOR fraternal lubrifica as engrenagens, que deslizam sem desgaste em seu trabalho com Força e Vigor.

Como unir homens, dotados de egos, vaidades, formações, conceitos, dogmas e valores tão diferentes? É aí que começa a ficar interessante a arte de ser Maçom e viver em harmonia. É um esforço comum a todos os membros, e que requer habilidade, comprometimento mútuo e vontade de formar um só corpo.

Antes de apreciarmos os preceitos maçônicos é importante nos conhecermos uns aos outros, trabalhar nossos pontos fortes, identificando os pontos fracos. Como sempre digo, no mundo profano, o modelo de união se dá pela formação de grupos lapidados por terceiros, enquanto que, na Maçonaria, a lapidação é individual, contanto que cada Pedra lapidada se encaixe no corpo da Loja, antes de se encaixar no edifício social.

O maior prejuízo para uma Loja Maçônica chama-se “crítica”. Criticar significa pegar o Malhete e sair trabalhando a Pedra do outro irmão. A força cega se aproveita disso e conduz a Loja à ruína.

O debate é saudável para a Loja. A crítica é destrutiva. O behaviorista B. F. Skinner, em seu livro “Science and Human Behavior” diz que, a crítica é fútil porque coloca um homem na defensiva, deixando-o em posição desconfortável, tentando justificar-se. Em momentos como esse, a essência do AMOR fraternal, também chamada de egrégora, se desfaz e a força cega assume o controle.

A crítica é perigosa porque fere o que o homem tem como precioso, seu orgulho, gerando ressentimentos. É o começo do fim dos relacionamentos.

John Wanamaker, um psicólogo estudioso dos relacionamentos, também escreveu: “Eu aprendi em 30 anos que é uma loucura a crítica. Já não são pequenos os meus esforços para vencer minhas próprias limitações sem me amofinar com o fato de que Deus não realizou igualmente a distribuição dos dons de inteligência”. Os homens deveriam fazer autocrítica. Como não o fazem, criticá-los é desafiar a harmonia em Loja.

B. F. Skinnner costumava fazer experimentos com animais, buscando compreender o comportamento destes, para depois compará-lo com o das pessoas. Ele demonstrou que um animal que é recompensado por bom comportamento aprenderá com maior rapidez e reterá o conteúdo aprendido com muito maior habilidade que um animal que é castigado por mau comportamento. Estudos recentes mostram que o mesmo se aplica ao homem.

O homem adora criticar. Tem os que criticam erros de ritualística em plena sessão, atrapalhando a egrégora, criando constrangimentos, quebrando a sequência dos trabalhos, cruzando a palavra entre as CCole o Or tudo pelo prazer de corrigir, criticar e fazer prevalecer seu potencial, seu ego e sua autoridade, quando na verdade, o que deveria prevalecer seria o AMOR. Buscar a perfeição na ritualística é nosso dever. Mas não é prudente fazer críticas e correções em pleno serviço. É o começo do fim.             

Estudos têm mostrado que a crítica não constrói mudanças duradouras, mas promove o ressentimento. Acaba deixando o rei no trono, mas sem súditos para os governar. É o fim do reinado.

O combustível do AMOR e da união é o elogio. Se algum irmão fez um trabalho e o mesmo precisa ser melhorado, seu consciente o está cobrando por melhora. Ele sabe que precisa melhorar, não porque alguém o cobre melhoras, mas porque o seu interior, sua alma, pede por melhora.

Quando alguém o elogia após a leitura de um trabalho, gera uma crítica construtiva, pois elogiou quando dentro dele existe uma crítica. Esse irmão se sentirá motivado a fazer mais e mais trabalhos, e, essa persistência o levará à perfeição sem que necessitasse críticas de terceiros.

Hans Selye, outro notável psicólogo que amava estudar o comportamento humano diz: “Com a mesma intensidade da sede que nós temos de aprovação, tememos a condenação”. Na prática, não só tememos, como também não ficamos satisfeitos com críticas feitas por pessoas semelhantes a nós, com o mesmo grau de fragilidade.

A Loja perfeita elogia, sugere, estimula, confere recompensas com palavras: O VERBO. A PALAVRA. O AMOR.

Não quero com isso buscar unanimidade favorável a essa tese que defendo. Mas tenho observado que em Lojas onde se pensa diferente, o AMOR esfriou, a harmonia desapareceu e as CCol da Loja estão em perigo.

Autor: Manoel Miguel – CIM 293759 – ARLS Colunas de São Paulo
4145 – Or.’. de São Paulo.


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