A REFLEXÃO E A TRANSFORMAÇÃO

Lendo os documentos oficiais e reconhecidos como válidos da antiga Maçonaria inglesa e francesa, percebemos a simplicidade dos ritos de lojas independentes paulatinamente sendo sufocado pela pompa de obediências das mais diversas.

As reuniões davam-se em tavernas, alugadas para a sessão; os símbolos eram desenhados no chão e nas paredes; as comemorações seguiam-se ao encerramento ritualístico; a iniciação resumia-se a um conjunto de fórmulas básicas.

Os painéis do grau eram, na verdade, pedaços de couro adornado pelos irmãos mais habilidosos, assim como a habilidade era o prumo para o ingresso na Ordem. Na verdade, a instituição nasceu pobre e não se dava com dignidades e com a nobiliarquia que, progressivamente, foi incorporada às associações operativas.

Evidentemente, os "aceitos" introduziram uma gama de conhecimentos de origens mais diversas, confundindo o conhecimento essencialmente maçônico com tantas culturas transportadas para as Lojas, o que não pode ser considerado negativo. Todavia, surgiu daí as mais insólitas interpretações sobre paradigmas simbólicos que deveriam, por obrigação, ser muito simples.

Esse ocultismo inculcado no imaginário europeu ganhou ainda mais força com o estabelecimento das obediências. Deve-se rememorar que a Ordem, com seus séculos, nunca contou com Orientes centralizadores, cabalando irmãos nas localidades de forma primitiva. Contudo, tantos Supremos Conselhos, Consistórios, e outras pequenas e grandes burocracias contribuíram por distanciar as origens dos maçons operativos, enevoando as mentes com as insígnias mais do que a finalidade última da instituição.

O grau de mestre, os graus superiores ou filosóficos, os ritos antigos e aceitos, são inovações no final de contas. Mas o que mais chama atenção nesse mar de vaidades é o reconhecimento. Antigamente, falar-se em reconhecimento era desconsiderar completamente a irmandade maçônica. Hoje, o reconhecimento interno e externo fala mais alto do que o conhecimento havido pelo iniciado. Não importa saber o que o irmão sabe, pensa, sente e externa, mas sim se a potência é ou não licenciada conforme preceitua o órgão expedidor de certificação.

Toda aquela burocracia que sufocava instituições decadentes, das quais a Maçonaria sempre se destacou, agora insiste por afogar a própria Ordem. O objetivo dessa humilde prancha é chamar atenção de todos pela necessidade de despir-se de vaidades, de formalidades, de verdades estabelecidas em prol do resgate das práticas tão especiais que caracterizam a Arte Real. 

Humildade para reconhecer o saber alheio, para aprender conjuntamente, para não tolher o crescimento do irmão, para reconhecer como irmão quem foi iniciado, para acolher em Loja qualquer que se mostrar maçom, para abandonar os símbolos externos e internalizar o conhecimento nas atitudes do dia-a-dia. Não gostaria de admitir a Maçonaria como trincheira para nobres, aburguesados, ou qualquer reunião que exclua os talentos de cada irmão.

Nossa Ordem não pode se pautar pela aristocracia tão cara a Templos caiados de pompa. Não quero encontrar mestres, soberanos, ilustríssimos, sereníssimos, poderosos, sapientíssimos, quero conhecer irmãos simplesmente, porque acredito que quanto maior o mestre, menor deverá parecer. Mas irmãos de fé, de fato e de direito, este que é filho único na família profana. Quero sentir Maçonaria e não decorar fórmulas vazias.

São essas os anseios deste que assina e certamente da nossa humilde e unida Loja Renovação Cuiabana n. 08. Estamos irmanados para a edificação que permita a todos nossos queridos irmãos ter em Cuiabá-MT um refúgio, um porto seguro, braços estendidos, acolhida confortável com o carinho que os irmãos merecem.

A todos que tiveram condescendência com esse irmão mais novo em ler a prancha até o final, renovo meus votos de luz e paz a todos, abraçando nossos queridos irmãos da Glusa e de todas as demais potências maçônicas que, ao final de contas, unir-se-ão no Oriente Eterno, caso a iniciação tiver começado nos corações de cada um.

Encontrarei proximamente todos e cada um, na pessoa de nosso irmão mais velho Weber e, em seu nome, mandarei toda a vibração que move esse eterno neófito. 

T:.F:.A:.
Ir.·. Eduardo Mahon
A.·.R.·.L.·.S.·. Renovação Cuiabana 08.


A ESTRADA QUE NOS LEVA A VIRTUDE


Uma das estradas mais difíceis de trafegar é aquela que nos conduz a Virtude. Essa estrada que se caracteriza por diferentes obstáculos, por curvas acentuadas, por retas longínquas que parecem não ter fim, por aclives e declives que por vezes nos levam a exaustão e que em alguns casos nos faz quase perder a direção revela-nos inesperados cenários.

Essa estrada ganha denominações variadas conforme cada trecho de seu trajeto. Seu início é um tanto obscuro, é praticamente desabitado, onde mal conseguimos vislumbrar aquilo que nos cerca e enxergar o que está a nossa volta... Trafegar por essa estrada exige rigorosa disciplina, cuidado, abnegação, orientação e muita força de vontade para percorrê-la com sabedoria.

Porém, dificilmente consegue-se transitá-la sem passar incólume por algumas privações. Suas pistas, às vezes mostram-se extremamente escorregadias e leva-nos a certo grau de insegurança de como devemos desviar das inevitáveis surpresas. Deparamo-nos a cada pouco com novos Sinais que nos obrigam a mudar as Marchas, obedecendo a um novo critério para que a nossa empreitada ganhe maior sustentação e segurança.

A Luz da imensidão dessa estrada se revela paulatinamente, à medida que vamos nos aprofundando no caminho. É a Luz que nos traz a revelação de nossos Atos e sublima as nossas Atitudes. Trata-se de uma estrada que se pode percorrer em Três grandes Etapas ao redor do Mundo. Ao viajarmos por ela, seremos invariavelmente reconhecidos como pessoas Livres e de Bons Costumes, o que já é um bom começo para quem ainda precisará desvendar seus augustos mistérios.

Seja pela pista da direita, quando nossa tendência é trafegar mais lentamente, ou pela esquerda, quando somos instados a pisar mais fundo, o que vale mesmo é saber discernir o dualismo das pistas para que possamos continuar a percorrê-la dentro dos limites da Tolerância.

É claro que a sensação de Liberdade, de sentir o vento batendo no rosto e a sensação gostosa de superação interior a cada Pedágio vencido são sinônimos do êxito de nosso trajeto.

Estamos seguindo adiante, onde um Sinal nos mostra a Elevação de um trecho que exige mais cuidado, mais estudo de como percorrer com segurança. É o trecho das nossas transferências onde Matéria e Espírito começa a se interpor e mesclarem-se como fonte inovadora de nossas aspirações.

Segue-se mais algum tempo e após aferirmos com maior acuidade que estamos prestes a Exaltar a nossa jornada encontramos a placa que se divisa a nossa frente indicando um sinal M.´., que nesse nosso trajeto chamaremos de Moderação, de Maturidade e de Maestria pela maneira como estamos seguindo a estrada que nos conduz à Virtude...

Vamos parar por aqui. Há trechos ainda muito mais tortuosos e cheios de percalços a serem transpostos. Esperemos, pois, por uma próxima viagem.

Fraternalmente Ir.´. Newton Agrella                                                                                      M.´. I.´. Gr.´. 33 REAA


A MAÇONARIA E A NATUREZA HUMANA


Bem sabemos que a Maçonaria ou as doutrinas maçônicas estão sempre próximas da natureza humana. 

Todos sentimos desde a infância o desejo de entendermos o universo.

Todos pretendemos construir uma imagem deste Universo, de o ordenarmos ao nosso jeito, à nossa volta, construindo histórias, o gérmen da fonte criadora que culmina, sem o sabermos, na filosofia maçônica. Pelo simples fato que o homem nunca deixará de promover o desejo de conhecer, das exigências da ação, na busca incessante da Verdade.   

Se, para a Igreja a Verdade já existe, para a Maçonaria ela é uma busca incessante, absorvendo as necessidades do próprio espírito, sempre num esforço pessoal sobre o Mundo e o destino. Realizado ao longo da vida nas Lojas maçônicas, o maçom continua no seu esforço  à procura da Verdade, quer num inquérito pessoal, quer sobre o Mundo e o seu destino; inquérito silencioso cujas conclusões encontra no seu dia-a-dia, ou nos momentos de calma ou alheamento nas Lojas onde reúne, com mudanças interiores que ficam evidentes e profundamente meditadas.

Assim se manifesta a Maçonaria, um genuíno agente de progresso intelectual.                                                
Esta curiosidade superior é muitas vezes confundida com sentimento religioso. Mas ele constitui a aptidão que é própria da nossa espécie. Nela reside o sentimento maçônico, uma vida espiritual por mais humilde que seja é a derradeira ambição das criaturas humanas. 

A Maçonaria regular e tradicional não pode pois representar sentimentos religiosos e muito menos a religião, seja ela qual for. Nem confirmar ou definir a existência de uma crença ou de um criador. Mas representa o homem espiritual que se afirma por si mesmo numa procura incessante da Verdade.

Uma afirmação que faz progredir a ciência através de todas as formas e experiências. Que coloca as religiões como mais um ponto de partida. Mas esclarecendo que o esforço humano vai para além delas.

A consciência humana é a imagem de um Mundo por explicar.  Mas de que mundo falamos? Do Mundo material e do Mundo espiritual. 

O maçom, desta forma, começa por apresentar uma consciência humana de um mundo por explicar e parte desta forma completamente livre para a busca da Verdade.

Procura trazer a ânsia da sua curiosidade, da sua certeza intelectual e do seu prazer pela defesa da perfeição moral. Por este desejo de aperfeiçoamento moral e pela certeza intelectual da sua consciência na busca da Verdade, exprime-se conforme a sua época e civilização, sendo certo que deseja ver claro em si e à sua volta.                   

Amar a Maçonaria e defender a sua Escola equivale a adotar esta consciência e não se limitar às respostas passadas dos formadores maçônicos.

A resposta de cada maçom deve ficar dentro de cada um, mas antecipando-se ao futuro, para poder contribuir diretamente para a construção desse futuro e de forma sistêmica.  

Passo a passo a filosofia maçônica conquistará o desconhecido, ultrapassará  os limites do imediato, das certezas religiosas, promovendo o risco das nossas interpretações esotéricas e simbólicas que o espírito nos impõe.

Sempre frágeis nos primeiros passos de um maçom, mas proporcionais em compreensão e em função do esforço que o maçom lhe possa dedicar.  

Ao retomarmos o caminho das primeiras verdades promovemos o conhecimento e descobrimos novos horizontes.

A natureza humana transforma-se num apelo que move o coração de cada maçom. De coragem, de compreensão, de tolerância, rodeados de mistérios próprios da natureza humana sempre disponível para a investigação e que a Escola da Maçonaria Regular e Tradicional permite alcançar.

BIBLIOGRAFIA

Peça de Arquitetura dos IIrr.'. Álvaro Carva e José Prudêncio, ambos Obreiros da Grande Loja Nacional Portuguesa e membros do Supremo Conselho de Portugal do Rito Escocês Antigo e Aceito.


O APERFEIÇOAR MAÇÔNICO - MAÇONARIA É MOVIMENTO



É movimento no sentido de que os Maçons devem estar sempre se reciclando, lendo e procurando sempre melhorar a vida para ser sempre um exemplo vivo dentro da sociedade em que vive.

Há pouco tempo, em Loja de Aprendiz Maçom, o Irmão Arion Peixoto Gershenson apresentou uma Peça de Arquitetura (artigo) intitulada “Porque ainda estou aqui?”. Trata-se de uma Peça de Arquitetura, primorosa e perfeita, encaixada para os nossos dias e que nos levou a refletir sobre essa energia que devemos ter na Maçonaria.

Partindo de um convite para entrar para Maçonaria com a Iniciação e, depois executando as diversas tarefas maçônicas exigidas para o prosseguimento e permanência na Maçonaria, foi dada como um dos motivos porque estava na Maçonaria. 

E aí é o que vem o que quero falar, que foi inspirado pelas reflexões da Peça de Arquitetura: Disse o Irmão que “Aqui em nosso Templo, sempre observo os meus Irmãos, não consigo encontrar nenhum igual ao outro, todos são pedras, pedras diferentes, mas que em nossa construção vão se desbastando e encaixando-se perfeitamente”. 

É essa dinâmica de “pedras” diferentes que vão se amoldando para a construção e que está sempre em movimento para se encaixarem perfeitamente na construção do Templo da Humanidade. 

Cada um com suas peculiaridades e defeitos vão se talhando, uns se transformando em pedras grandes, outros em pedras menores, mas todas importantes para a construção. É essa energia constante que vai acionar o fogo da fraternidade e o trabalho em equipe para a consecução dos objetivos maçônicos. 

É como ele disse na Peça de Arquitetura, que lendo “um livro em que tinha uma citação sobre uma inscrição Persa que foi traduzida assim”: “Oh! Enquadra-te para ser utilizada; Uma pedra adaptada ao muro não fica abandonada no caminho”. Ou seja, trabalha, trabalha e trabalha, mas como Pedra “enquadra-te” e se junta com os outros para ser bem utilizada e energizada a fim de que não fiques para trás, jogada no meio do caminho ou abandonada. 

Como disse muito bem o Irmão no final de sua Peça de Arquitetura, de que a Maçonaria: “... entrega ao iniciado o ambiente a as ferramentas necessárias para seu aprendizado e desenvolvimento. E nós, os iniciados, temos o livre arbítrio, nós decidimos: Ser uma pedra desbastada ou uma abandonada no caminho”. 


E aí chegamos à conclusão de que a Maçonaria realmente é estímulo, é movimento, é ação constante para que a vida seja construída de homens dignos e dispostos a se enquadrarem na felicidade e no bem da Humanidade. 

Juarez de Oliveira Castro
Loja Simbólica Alferes Tiradentes nº 20


O SONHO E A ESCADA


Não sei se é costume em todas as regiões do Brasil, o maçom dizer que “subiu um degrau na Escada de Jacó”, para externar sua alegria em receber “aumento de salário”.

Aqui, na região em que vivo e tenho vinculação com a Arte Real, é rotina dizer-se esta expressão, tanto na revelação da felicidade de quem foi elevado de grau, como nos discursos de saudação aos beneficiados.

Entendo que deverá ser muito denso o significado deste símbolo na maçonaria (1), diante de tanta ênfase que se lhe dá em seu uso ou ao se fazer a sua exegese, por mais superficial que seja a abordagem.

Não quero falar que a Escada de Jacó é importante, por haver sido admitida no Simbolismo Maçônico e, coincidentemente, ao mesmo tempo em que se inaugurava o primeiro Templo Maçônico, construído como tal e para esta finalidade – o Freemason’s Hall – inaugurado em 1776 (2), no oriente de Londres.

Nem desejo registrar, mas já registrando, a sua importância, porque esteja configurada no Painel da Loja de Aprendiz, elaborado por Willian Dight, em 1808 (3), onde a Escada de Jacó aparece, partindo da Bíblia aberta sobre o altar e alçando-se ao céu, que o alcança no clarão de uma estrela de sete pontas.

Todavia, como se percebe, mesmo sem querer me referir a uma Escada, já falei de duas. Uma a do sonho de Jacó, cuja descrição vem do Velho Testamento (4). Outra, desenhada por Dight, que se reporta à primeira, mas com omissões e algumas inserções. Na Escada do sonho, ela está ligando a terra ao céu, e anjos, sobem e descem. Na Escada do Painel, ela está ligando a Bíblia do altar ao céu, sem anjos, mas com a introdução de fortes símbolos do cristianismo, quais sejam: a cruz da fé, a âncora da esperança, e o cálice do amor (o sangue do Filho de Deus, derramado em face do amor pela humanidade). (5)

O sonho, que teve Jacó, e está totalmente narrado no Gênesis. O Senhor, na oportunidade, fala a Jacó de tudo de bom que lhe está reservado, tanto a Jacó quanto à sua descendência – o povo de Israel, nome este que substituiu o de Jacó, após sua luta com o anjo, episódio de que a Bíblia se ocupa no livro de Gênesis (6)

A conversa havida ao pé da Escada inspira o entendimento de uma contrapartida de Jacó e descendentes ao que o Senhor, seu Deus, lhe estava a garantir. Que aquele povo desse à vida o destino de encaminhar-se ao Altíssimo: (7) “uma peregrinação de retorno à Casa do Pai”, como séculos depois, Santo Agostinho ensinava a respeito da vida. 

Parece-me não causar arrepios dizer que a maçonaria pensa desta forma, quando proclama a “prevalência do espírito sobre a matéria”. Pensamento este muito bem retratado na composição do compasso e esquadro, sendo este a matéria e aquele o espírito. 

A vida, em seus aspectos menos tangíveis, é o mote principal da Ordem. O aperfeiçoamento do iniciado e seu exemplo na comunidade em que habita.. O cuidado com o bem-estar do próximo. O zelo pela família. A dedicação às coisas do amor fraternal. O adepto da maçonaria deve apresentar-se pelo bem que pode fazer.

A Escada de Jacó indica esta trajetória. No que se refere ao sonho, ela é utilizada pelos anjos (seres plenos de virtudes) em sua movimentação. O maçom deverá ser um construtor de templos à virtude. Ele mesmo será uma pedra que se poliu para ocupar espaço na construção. Ascender mais um degrau na Escada é estar mais perto do Criador. Significa dizer: possuir mais virtudes. A contrapartida ao que o Senhor ofertou a Jacó.

A Escada de Jacó, na concepção de Dight, que contém os símbolos da fé, da esperança e do amor, tem o chamamento do maçom a seu próprio aperfeiçoamento.

Se o maçom diz que subiu um degrau na Escada, tem convicção do que está dizendo, e acredita nisto, ele está declarando seu compromisso com esta prática de amar a Deus, pois está em seu caminho; de aperfeiçoar-se, porque é destinado a ser templo de Deus (8); e de amar ao próximo que é um estágio da Escada, que se encontra mais aproximado do Altíssimo.

Que o Grande Arquiteto do Universo conceda, sempre, aos irmãos maçons a força e o vigor suficientes para subirem, não somente um, porém vários degraus nesta desafiadora “escada”, com a qual sonhou Jacó e na qual a maçonaria se inspira a cada instante.  

Sobre o autor: Antonio do Carmo Ferreira é Grão Mestre do Grande Oriente Independente de Pernambuco (COMAB), Presidente e fundador da Associação Brasileira de Imprensa Maçônica (ABIM) e um dos mais fecundos escritores maçônicos da atualidade entre outras..

RECURSOS BIBLIOGRÁFICOS

(1) “A Escada de Jacob é alegoria de origem bíblica e designa a escada que Jacob viu em sonho, a qual simbolizava a providência e cuidado especial de Deus por Jacob; os anjos levavam suas orações e necessidades ao trono de Deus e desciam com as bênçãos divinas; em Maçonaria ela é representada sobre o círculo entre paralelas verticais e tangenciais, tendo no topo, uma estrela de sete pontas, como símbolo da ligação do iniciado com Deus, através da ascensão na escada iniciática”. José Castellani, no livro Dicionário Etimológico Maçônico, vol. DEFG, pág. 59, Editora A Trolha, Londrina/PR.. 

(2) “Naquele ano foi pintado um Painel... tudo leva a crer que o irmão Pintor... acrescentou também a Escada de Jacó, que desde alguns anos antes já vinha sendo ensinado nas Lojas. Lendo Machey, vemos que no rito de York, a Escada não era um Símbolo original, tendo sido introduzido por Dunckerley em 1776, época em que Priston iniciou suas LEITURAS. O que vem a comprovar, é que, até aquela data, a Escada de Jacó ainda não era um Símbolo Maçônico. No Rito Escocês Antigo e Aceito, ela entrou pelas mãos de Miguel André de Ransay, que era um ardoroso defensor dos Stwarts, transformando em símbolo maçônico a Escada Mística dos Mistérios Mitraicos.” Francisco de Assis Carvalho no livro “Símbolos Maçônicos e suas origens”, págs. 135, 136 e 137, Editora A Trolha, Londrina/PR.. 

(3) “Willian Dight, um maçom inglês, pintor, em 1808 elaborou três Painéis sobre lona, como era de uso na época.” Rizzardo Da Camino no livro “Os Painéis da Loja de Aprendiz” pág. 109, Editora A Trolha. Na pág. 110 da mesma obra está reproduzido o painel onde se encontra o desenho da Escada de Jacó.
(4) Gênesis 28:10 – 17
(5) I Cor 13:13
(6) Gênesis 32: 28
(7) Gênesis 28:20 – 22
(8) I Cor 6: 19


O FOGO, A CHAMA E A LUZ


Na Maçonaria, assim como em outras instituições iniciáticas, místicas, esotéricas, filosóficas ou religiosas, o fogo, a chama e a luz são símbolos de profundo significado.
Nas iniciações, um dos batismos do candidato é feito pelas chamas do fogo, simbolizando a queima das impurezas que a água não consegue tirar.
“Nos livros sagrados de todas as religiões, temos centenas de citações sobre o fogo, a chama e a luz, no início da Bíblia em Gênesis – 1: 3 a 5 – Deus disse: “Haja Luz. E houve luz. Após a criação dos céus e da terra, a primeira manifestação foi a criação da luz. O grande cientista Albert Einstein disse que a luz é a sombra de Deus.”
“Nos rituais religiosos, se acendiam lamparinas com óleo de oliva virgem e límpido, no fogo se queima o incenso com aromas perfumados para agradar a Deus. O profeta Isaías – 5: 25 – “Pelo fogo se acendeu a ira do senhor… .” Também dizia: “A violência de sua cólera.” A chama de um fogo devorador. “Inflamam as árvores das florestas e as videiras.”
Quando o ser humano aprendeu a se utilizar do fogo, para cozinhar os alimentos, se aquecer nos dias e noites frias, ele passou a se diferenciar dos outros animais, na realidade, a maior contribuição para a formação da civilização foi a utilização do fogo.
“Ele é citado em Gênesis – 15: 17 – “E sucedeu que, posto o sol, houve escuridão; e eis um forno de fumo, e uma tocha de fogo, que passou aquelas metades.”

As velas do altar simbolizam que a luz pode vir de fontes diferentes, mas a sua função é iluminar, o maior ensinamento é que elas sempre formam uma unidade, que a doação também significa recebimento, ao doarem a sua luz para o acendimento de outra vela, elas não perdem a sua luz, na realidade a luz é multiplicada, quanto mais se doa, mais se tem.

“A presença de Deus sempre é anunciada por trovões, relâmpagos e nuvens luminosas; ou mesmo como “sarça ardente”; temos também a carruagem que elevou Elias ou quando ele estava no monte Horeb e escondeu o rosto ante o sopro de Deus; as visões de Ezequiel; Moisés que se viu face a face com Deus desce do Sinai com o semblante resplandecente.”

No salmo 136: 7, 8 e 9 “Aquele que fez os grandes luminares…”

No Novo Testamento, Jesus, o Cristo, é a luz, o fogo interior, o amor, o conhecimento; “a lâmpada não está mais sob o alqueire, mas, sobre a mesa.”
Temos a luz como a interiorização do conhecimento “A lâmpada de teu corpo é teu olho.” “E se teu corpo estiver na luz, ele estará todo na luz.”
O livro todo de João é considerado como o Evangelho do Espírito – 1: 1 a 8 – Temos a repetição da criação. Com o fracasso de Adão e tantos outros que não foram ouvidos, Jesus, o Cristo, teve que ser enviado, que após passar pela purificação pela imersão na água teve o batismo pelo fogo divino.
Com essa visão parcial da Bíblia, tivemos uma caminhada pouco a pouco mais espiritualizada da luz sombria da matéria para a pura luz. Podemos perceber que a vida tem um propósito, que a luz que tem sido preservada através das eras pode ser alcançada.
Sabemos que a luz da maioria dos seres humanos não passa de mera obscuridade, mas existem aqueles que se tornam espiritualizados. Eles já não se contentam com as sombras, pois, a presença da luz provoca uma débil reação em sua mente e seu coração.
Na Maçonaria devemos deixar de lado, as tolas vaidades, as brigas pelo poder, as tristes divisões e buscarmos alcançar o ápice da pirâmide para nos tornarmos verdadeiramente evoluídos e aperfeiçoados, nos transformarmos em verdadeiros líderes e instrutores da sociedade menos esclarecida. Como disse o célebre maçom Mário Leal Bacelar “Vamos nos dar as mãos”. Devemos formar uma unidade, assim como, as velas brilham separadas e com a união fornecem mais luz, assim o verdadeiro maçom deve fazer, não importa onde está o conhecimento, pois, ele pode estar em todos os lugares, o importante é que o divulguemos, formando uma só família.
Quando passamos a entender que a criação é um processo contínuo; que ela não ocorreu instantaneamente, mas, por estágios e, que ainda fazemos parte desse processo. Só então compreendemos o verdadeiro significado da primeira criação: “Das trevas do abismo, o invisível e incognoscível Deus moveu-se sobre a face das águas e disse: “Faça-se a Luz.”
 Ir.’. Pedro Neves • M.’.I.’. 33.’. • MRA


O MAÇOM E A VAIDADE COMO FORÇA ESOTÉRICA NEGATIVA


“Deus nunca deu as costas ao homem e nunca o enviou para novos caminhos salvo quando ascende a divinas especulações ou trabalha numa confusa ou desordenada maneira e quando se junta à lábios profanos ou pés imundos. Pois para os relaxados, o progresso é imperfeito, os impulsos vãos e os caminhos negros.” (Zoroastro)

 Eu solenemente avisara ao mundo que, enquanto a coragem é a primeira das virtudes do Iniciado, presunção e imprudência não possuem conexão com ela, mais do que uma caricatura do ex-Kaiser com Julius Cæsar ou daquele que se acha acima de todos em sua arrogância e orgulho.

Tais arrogâncias são compostas em parte pelo falso orgulho vindo do amor próprio e da insegurança, parte pelo impulso desmedido que o medo extremo provoca. Existem soldados que ganharam a cruz em batalha por não por “valor”, mas pela pura falta de autocontrole numa crise de covardia.

Disciplina automática faz com que a deserção seja impossível; a única saída é avançar e fazer aquilo que o instinto manda. Eu conheço dois oficiais que não se lembram do ato que os fizeram ganhar a cruz de honra. Pensamento similar frequentemente faz com que jovens Iniciados esqueçam que o OUSAR ESOTERICO deve ser precedido pela vontade e conhecimento, todos os três regidos pelo SILÊNCIO. Este último significa várias coisas, porém a maioria delas guarda relação com controlar-se fazendo com que cada ato seja silencioso, toda perturbação significando desajeitamento ou ânsia.

O soldado pode ou não conseguir carregar o seu companheiro ferido em meio a um bombardeio, porém não existe sorte em Maçonaria e em seu princípio místico/esotérico de suas oficinas. Nós trabalhamos num mundo fluido onde cada ação é compensada imediatamente. Luz, som e eletricidade podem ser usados e assim os efeitos sobre pensamento, fala e ação redirecionar ou retardar qualquer movimento, mas em esoterismo, como a força da gravidade, não conhece obstáculos.

É verdade que se pode impedir a queda de uma flor mantendo-a em cima de uma mesa; mas as forças ainda estão agindo e a ação foi compensada pela redistribuição do stress em cada objeto por todo o universo pelo deslocamento do centro de gravidade do cosmos, do mesmo modo que meus músculos vão de um estado de equilíbrio para outro, a flor manifesta suas energias no mogno em vez de fazê-lo no carpete.

Assim, a presunção em qualquer ação esotérica, sem dúvida, é punida, pronta e merecidamente. O erro é um dos piores, pois atrai todas essas forças que, por serem destrutivas esotericamente, tornam-se negativas pela dor e encontram seu principal consolo em tira-las de dentro dos desavisados. Pior ainda, a expansão histérica do Ego leva a um profundo afastamento da verdade, embora muitas vezes não seja percebido pelo desavisado profano de avental que acredita sinceramente estar vencendo os degraus da senda, ao se pavonear para si e para os outros.

O orgulho, a vaidade, a hipocrisia, tão comuns não apenas na Sublime Ordem, favorecem obsessões demoníacas. Eles inflam o orgulho do tolo; eles lisonjeiam cada fraqueza levando-o a atos dos mais ridículos, induzindo-o a falar as mais delirantes bobagens e fazendo se achar o maior dos homens – homem não, um deus. Ele toma cada fiasco como sucesso, cada insignificância como um sinal de sua sacrossanta soberania ou da malícia do inferno cujas ações o martirizam.

Todo o sucesso que alcança é visto como uma força mágica de seu poder pessoal e todo fracasso é culpa dos outros, ciumentos de suas vitórias.

Sua megalomania oscila da exaltação maníaca a melancolia como ilusões sobre perseguições. Já vi vários casos assim ocorrerem por erros triviais como falta de cuidado em consagrar em afinar-se corretamente com uma Egrégora positiva (desviando o pensamento em banalidades; má-postura; quebra do juramento de silêncio; brincadeiras e conversas e joguinhos ou falas em celular – o que é uma aberração, pois o isolamento no Templo é um princípio místico ESSENCIAL etc.), ou ainda assumir um Grau na Ordem sem ter a certeza do merecimento e sucesso nas provações do caminho; instruir um Iniciando sem ter passado antes a ser verdadeiramente um Neófito; descumprir abertamente os Landmarks e ridicularizar IIr.’. que apontam respeitosamente essas falhas; omitir pontos importantes de rituais achando serem formalidades incômodas e banais; e até fazer apologia a erros pelos quais um homem se convence de que suas falhas são punições causadas pelo excesso de méritos próprios.

Eu me lembro de um homem que atribuiu suas falhas em realizar Asana corretamente a sua excepcional energia física. Seu corpo, dizia ele, possuía tamanha força interna que ele tinha que se mexer – mesmo sendo algo característico do ser humano comum tentar ficar desse modo, para ele era algo que não tinha nada haver com a sua natureza.

Cinco anos mais tarde ele me disse que se tornou o homem mais forte do planeta e pediu para que eu descarregasse meu revolver no seu peito e não me importasse em ter minhas janelas destruídas pelo ricochetear das balas.

Eu resolvi poupar minhas janelas e, além disso, odiaria ter que limpar a minha arma. Ele então se ofereceu para vê-lo carregar um motor de carro nos ombros e acompanhá-lo na estrada. Disse que não queria e não o insultaria pedindo provas do que afirmava. Ele então foi embora, cheio de si e resmungando. Um mês depois soube que ele sofreu uma paralisia devido a insanidade. O homem que se gabava do esplendor de sua força agora não podia mover um músculo. O homem que se ostentava agora nem falava; ele apenas urrava.

Casos assim que me mantiveram numa constante vigília contra o “muito orgulhoso em lutar” – ou varrer o chão, caso necessário fosse. A Humildade e a Coerência são as principais forças mágicas do verdadeiro Maçom. Nenhum grau é superior ao outro se não devidamente introjectado e vivenciado, destruindo a cativante Mosca Azul da Vaidade como atividade real no dia a dia.

 Nenhuma consecução pessoal pode ocorrer sem passos sinceros em cada estágio de crescimento. Existem incontáveis iniciados, especialmente na Ásia, que alcançaram o sucesso espiritual. Mesmo os melhores resultados devem satisfação a nossas aspirações, e estas podem ensandecer o Aspirante, caso não possua “senso de humor e também bom senso” pra conseguir vencer tanto as derrotas quanto, principalmente, as aparentes vitórias.

Assim, pra encerrar, cito o poeta, alpinista e magista Alesteir Crowley, no qual este texto é baseado (enquanto interpretação livre):

“Eu nunca me deixei esquecer das rochas que me atrapalharam [ao escalar]: o Coolin Crack em Beachy Head (maldito seja!) o a altura do Pilar Deep Ghyll (horrível!) a face leste do Dent Blanche (exploda-se!). Eu raramente me pavoneio, até mesmo as minhas poesias, a menos que esteja muito deprimido. Prefiro tagarelar sobre minha ignorância num assunto – uma lista extensa, e sobre a superficialidade de meu conhecimento do pouco que sei fazer. Eu medito em minhas falhas da conduta que ocorrem com a humanidade, minha inocência em muitas características óbvias que ela possui. Minha simplicidade é tamanha que, frequentemente, eu me pego pensando se eu não entendi determinado assunto realmente. Assuntos nos quais outros compreendem com muito menos esforços do que os meus [...]. De fato eu temo tudo aquilo que é característico dos acanhados, sentimentais, vaidosos, escravos que se deixam prender pelas grossas coleiras e braçadeiras de linho nas salas de escritório realizando trabalhos mentais monótonos, conversando futilidades e também terminar meus dias num reformatório ou asilo. E novamente digo: eu pareço capaz de fazer, sem qualquer excitação ou medo, coisas que até o mais bravo e mais poderoso e livre dos homens acharia terríveis, coisas as quais nem sonhariam em fazer ou temeriam mais do que a morte.”

SABER, QUERER, OUSAR, CALAR-SE é bom caminho e ação do verdadeiro INICIADO MAÇOM. Erguendo Templos à Virtude e profundas masmorras ao Vício. Sem alarde, sem superficialidade, sem orgulho e principalmente, sem hipocrisia.
Obrigado! TFA.


ADAPTADO LIVREMENTE DO LIBER 418 A visão e a Voz (Aleister Crowley): O Maçom e a Vaidade como força esotérica negativa



Fernando Guilherme S. Ayres, MM (pVM da. A. R. L. S. Amor e Justiça n. 02 - GLOMEAL)

TOLERÂNCIA E HUMILDADE


Era uma vez, um maçom muito austero consigo mesmo, dedicado à causa da Arte Real, não perdia um momento do seu tempo que não fosse para debruçar-se sobre os livros maçônicos e sugar-lhe a seiva do conhecimento impresso em suas páginas, procurando compensar o tempo perdido, pois fora iniciado já em idade provecta.

A presença dele em loja era um terror, abusava da sua idade para exercer o poder de crítica em todos os trabalhos que comparecia e assim ditar cátedra aos mais novos, afinal o seu acervo de conhecimentos, “pensava ele”, dava-lhe esse direito.

Até que um dia, após ter comparecido a uma sessão magna, onde foram iniciados três novos obreiros, no desenrolar da cerimônia, ele não perdeu oportunidade, ficava atento para observar a mínima falha na ritualística cometida pela equipe de trabalho para chamar à atenção do Venerável Mestre, e exigia a correção de pronto, naturalmente o que em muito atrapalhava a cerimônia iniciática, pois nesse momento, a sessão era interrompida, dava-se a retirada dos iniciandos, para que ele desse a sua interpretação e exigia que a correção fosse feita.

O Venerável Mestre, a contra gosto, em respeito aos cabelos brancos do irmão, e não querendo ser agressivo, aceitava as investidas do importunador. Ao término da sessão, nas manifestações dos irmãos, ele se fez ouvir, e numa linguagem imprópria e ácida para um maçom, chamou a atenção do irmão experto e dos auxiliares pelo deslizes por ele observado, ocorridos durante o cerimonial iniciático.

Após a sua manifestação, que ao seu julgamento, fora irrepreensível sob todas as formas, pois se considerava um alto conhecedor da filosofia e dos mistérios da nobre arte dos edificadores do templo. Satisfeito, deixou a companhia dos irmãos, recusou o convite para participar da ágape, onde estariam reunidos todos os irmãos da Loja com seus familiares.

Assim, despediu-se dos demais, e dirigiu-se para a sua residência. No caminho dizia para si mesmo: “... fui ótimo, dei mais uma lição àqueles maçons que não estudam, além do que, não sabem trabalhar com a ritualística; a ignorância com que tratam as coisas sagradas da maçonaria é um despautério despropositado”...  

O interessante é que não comentava a sessão como um todo, em tudo aquilo que fora realizado com esmero e prontidão, embelezando a sessão iniciática, sem uma observação sequer. Após ter percorrido alguns quilômetros, viu-se diante da sua residência, estacionou o seu veiculo, e dirigiu-se para a porta com a chave na mão, abriu-a e entrou, fechou a porta, parou a um passo e sorridente olhou para o interior, viu a sua companheira que se aproximava para cumprimentá-lo.

Entre eles estabeleceu-se o seguinte diálogo. - Então, como foi a sessão? - Como todas as outras que tenho comparecido, sempre sou obrigado a intervir de quando em quando, para corrigir as falhas gritantes que aqueles maçons despreparados cometem.

- Naturalmente, sou alvo de admiração dos presentes, pelo grande conhecimento ritualístico que possuo. - Interrompo a todo instante, para exigir a pronta correção, afinal, eu sou colado no grau trinta e três, o que me dá a condição de ser um Inspetor da Ordem, e me cobre com a autoridade necessária.

- E...? Como os demais maçons recebem as interrupções? Você não se torna inoportuno com essas atitudes?

- Não! Exasperado, grita: - Esse fato não lhe diz respeito! Assim foi interrompido o dialogo entre marido e esposa. Ela constrangida, afastou-se, deixando o marido a sós, com o seu azedume.

Assim que ela se afastou, já recomposto, disse pára si próprio: enfim poderei desfrutar alguns minutos de satisfação, ou talvez horas em completo silêncio e aproveitar para estudar mais e fazer uma reflexão sobre s minha atuação de hoje e verificar se não deixei passar alguma incongruência durante a cerimônia.

Dirigiu-se à sala de estudos sentou-se na sua cadeira predileta tendo antes tomado na estante um livro maçônico, intitulado “A TOLERÂNCIA E HUMILDADE DO MAÇOM”.

Abriu em suas páginas iniciais, e posse a ler. Já de início, discordou do autor, quando no prefácio observou os elogios feitos pelo apresentador da obra, classificando-o como “maçom erudito”, inteligente e ícone da maçonaria.

- Que blasfêmia! Classificar esse autor como ícone da maçonaria!!

- Se ele é um ícone, então como serei reconhecido entre os meus pares? - Com a bagagem maçônica que possuo se até agora não escrevi nada não é opor falta de conhecimento ou capacidade e sim por falta de tempo.

- Gostaria que neste momento, estivesse algum irmão aqui em casa para poder ensinar-lhe o verdadeiro sentido da maçonaria.

- Como eu poderia ser útil a quem quisesse escutar-me, e deixar-me derramar a luz sobre esses inúmeros irmãos que só sabem martelar sem entender o significado esotérico dessa respeitável atitude maçônica.

Arrogantemente, especulava mentalmente, tendo cerrado os olhos fazia seus vôos condoreiros deixando para trás a racionalidade dos efeitos de um perfeito maçom, seguro de sua pequenez, não ele.  

Julgava a si próprio, e valorava-se de tal forma, que parecia somente ele o conhecedor dos mistérios da edificação do Templo de Salomão, e que Hiram Abiff, nada representava dentro da filosofia desenvolvida pelos obreiros da Arte Real. Ouviu um riso gaiato. - Hi!...hi! ...hi!... - Ainda com os olhos semicerrados, pareceu-lhe ter escutado um riso zombeteiro, de início não deu importância ao fato.

Continuou a dar guarida aos seus volteios imaginativos, via-se como o maçom de maior conhecimento e merecedor de todo o respeito pela sua postura, podia até ser tido como um censor dos trabalhos realizados sem loja. - Hi!... hi! ...hi!...

Voltou a escutar com toda a clareza o mesmo riso zombeteiro, o que lhe assustou, fazendo-o abrir os olhos, e perscrutar ao seu redor. Espantado e já sentindo um arrepio a correr-lhe pelo corpo com atitude nervosa, percebeu que ficara temeroso com o que estava acontecendo.

Encheu-se de coragem, procurando acalmar-se, disse para si mesmo:

- “É produto da minha imaginação! Não devo temer, pois nada me atemoriza neste mundo” Assim, uma vez mais, deixou-se levar pela sua mente, novamente se fez ouvir o riso como se alguém presente, estivesse a ouvir-lhe os pensamentos e os desdenhasse condenando a sua arrogância.

- Há!... Há!... Há!...; Abriu rapidamente os olhos, olhou para todos os lados, e intrigado, asperamente, vociferou: - Quem está aí? Não obteve resposta. Novamente, exclamou: - “Quem está aí, quem está tentando brincar comigo?” Após uns segundos de silêncio mortificador, ouviu em resposta.

- Você não queria que alguém estivesse aqui para aprender maçonaria? - Pois eu estou aqui. - Quem é você? Exclamou o maçom. Uma voz soturna, respondeu.

- Eu sou o seu “PENSAMENTO”! Sou o seu julgador, sou aquele que pode contestar as suas atitudes, aquele que levado pelo censo de justiça poderá desafiá-lo em conhecimentos, aquele que poderá discutir com você neste momento, no campo da filosofia maçônica e num desafio entre nós, verificaremos se você aprendeu a fazer uso do maço e do cinzel, no desbastar de suas próprias asperezas.

- Sou aquele que aparece antes que suas ações sejam realizadas; primeiro eu me manifesto, depois você realiza, mesmo às vezes me contrariando, pois antevejo que a ação resultante será nefasta.

- Aceita o desafio? Ora, pensou o maçom, eu ser desafiado pelo meu próprio pensamento, afinal eu que o domino, não poderei perder para ele.

Eu conheço tudo de maçonaria; no Rito Escocês, não me é desconhecido, caminho com segurança dentro da estrada de Aprendiz ao Inspetor Geral, pois já fui colado ao grau trinta e três e percorri todo esse grande trajeto. Os demais ritos, como York, Adoniramita, Schroeder, Francês ou moderno, Egípcio (de adoção), Iluminado de Avinhão, Kilwining, Swemborg, Misrain, etc. outros tantos, não me são desconhecidos. Presunçosamente, exclamou:

- Pois bem, aceito o desafio! E continuou: - Façamos um pequeno debate, um pergunta e o outro responde, está certo? Disse o presunçoso. - Sim, respondeu o seu PENSAMENTO.

Dou-lhe a prioridade para fazer-me a primeira pergunta. - Não, respondeu o maçom, faça-me você a primeira que me disponho a respondê-la.

- Está bem, se assim você quer, então vejamos, far-lhe-ei uma pergunta bastante fácil para iniciarmos. - Diga-me, “o que é maçonaria?” O pretensioso sorriu, e pensou consigo mesmo, “ora essa é pergunta que me faça logo eu que de maçonaria tudo sei, nada me é desconhecido”.

‘Há alguns anos, venho escutando os Veneráveis, na abertura dos trabalhos perguntarem aos irmãos que desempenham o cargo de chanceler: “Que é maçonaria, irmão chanceler?

E a resposta, incontinente do chanceler se faz ouvir em alto e bom tom “... é uma instituição que tem por objetivo tornar feliz humanidade pelo amor, pelo aperfeiçoamento dos costumes, pela tolerância, pela igualdade, pelo respeito à autoridade e a crença de cada um”.

E complementou o raciocínio. - “É uma instituição Universal e suas oficinas espalham-se por todos os recantos da terra sem preconceito de fronteira ou de raça”.

O maçom, num tom jocoso, verbalizou a sua resposta como vinha escutando há anos, todavia, sem analisar o conteúdo. Enquanto desfrutava o sabor dos seus conhecimentos, verificou que o seu interlocutor pesaroso sacudia negativamente a cabeça.

Essa atitude pegou de surpresa o maçom, ruborizou-se, quase entrando em estado apoplético levado pela irritação que o acometera, pois jamais esperava ter chamada a sua atenção pelas suas afirmações, por considerá-las corretas, sem contestação alguma, e, agora estava sendo chamada atenção pelo próprio pensamento!

- Ora bolas, isso jamais tinha ocorrido em sua vida de maçom!

- Sempre fora tido como um maçom estudioso, inteligente, culto, e ninguém jamais se encorajaram em chamar-lhe atenção ou dizer-lhe que “ele” estava errado em suas afirmações. Pois sempre merecera o respeito dos maçons, em todas as oficinas que teve o prazer de visitar.

O seu interlocutor, pesaroso, disse-lhe:

- Se você não sabe o que é maçonaria como deseja discuti-la, em sua história, em seus ensinamentos, em sua filosofia, em seus princípios?

- Você não acha muita pretensão?

- Se não sei o que seja maçonaria, como você ousa afirmar, diga-me, então o que é a maçonaria, meu pobre pensamento! Que vou contestá-lo e mostrarei que estou com a razão, ou melhor, sempre estive de braços dados com ela, essa é a fórmula inserta em nossos rituais e os seguimos à risca os seus pensamentos.

- Vá lá, o que é maçonaria?

O pensamento refletiu por um momento e disse:

- O que você acaba de mencionar, nada mais representa que os objetivos da maçonaria e não a definição desta ciência para uns, e arte para outros. Várias são as definições de maçonaria, mais a que mais me agrada e esta: “Ordem maçônica é uma associação de homens sábios e virtuosos que se consideram Irmãos por laços de recíproca estima, confiança entre si e cujo fim é viver em perfeita igualdade, intimamente ligados pela amizade, estimulando-se uns aos outros na prática das virtudes”.

“Em fim é um sistema de moral, velado por alegoria e ilustrado por símbolos.” Embora imperfeitas essas definições sejam suficientes para nos convencer de que a Ordem Maçônica foi sempre, e deve continuar a ser, a UNIÃO CONSCIENTE de homens inteligentes, virtuosos, desinteressados, generosos devotados, irmãos livres e iguais, ligados por deveres de fraternidade, para se prestarem mútua assistência e concorrerem, pelo exemplo e pela prática das virtudes, para esclarecer os homens e prepará-los para a emancipação progressiva e pacífica da humanidade.

É, pois um sistema e uma escola, não só de moral como também de filosofia social e espiritual, revelada por alegorias e ensinada através de símbolos, guiando seus adeptos à prática e ao aperfeiçoamento dos mais elevados deveres de homem cidadão, patriota e soldado de bem.

Praticando o bem sobre o plano físico e moral, a maçonaria reúne todos os homens com irmãos, sem deles indagar a crença ou a fé. Por isso e para evitar o desvirtuamento seus nobres e sublimes fins, a MAÇONARIA exige que sejam iniciados em seus mistérios somente aqueles que, reconhecendo a existência do G.’. A.’.D.’.U.’., bem compreendem os deveres sociais e, alheios a elogios mútuos e inclinações contrárias aos rígidos princípios da moralidade.

Busquem-na em elevados sentimentos de Amor Fraternal. - A Maçonaria é, portanto, o progresso contínuo, por ensinamentos em uma série de graus visando por iniciações sucessivas, incutir no íntimo dos homens a LUZ ESPIRITUAL E DIVINA, que, afugentando os baixos sentimentos de materialidade e sensualidade e de mundanismo e invocando sempre o GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO, os tornem dignos de si mesmo, da Família, da Pátria e da Humanidade.

- Chega! Pare! Não diga mais nada! “Violentamente o velho maçom, gritou ao seu interlocutor”. Este ficou surpreso e interrompeu a dissertação! ...

Aos prantos, disse: - Como agradeço, ó meu pensamento!

- Vivi até agora na escuridão da VAIDADE e da IGNORÂNCIA, sempre tendo como medíocre os meus irmãos, quando na verdade o ignorante, sou eu.  

Como me envergonho das minhas atitudes posso até considerá-las nefastas, quantas vezes me tornei pedante e prepotente diante dos meus irmãos. Quantas intervenções inoportunas e quantas interrupções despropositadas nas sessões em que participei.

- Ainda hoje, tornei-me intolerante, é por isso que os meus irmãos, quando chego à loja, ficam incomodados com a minha presença.

- Muitas vezes, escutei palavras xistosas, com insinuações de ter chegado o professor de Hiram Habiff...

- Eu não entendia como dirigidas a mim!

- Agora entendo por que fugiam de mim. Agora entendo por que, nas sessões em que eu estava presente, os irmãos muitas vezes se encolhiam nas cadeiras situadas no oriente e no ocidente esperando que não me manifestasse.

Nesse instante, o Velho Maçom, pôs-se a chorar copiosamente, colocou carinhosamente, junto ao peito a obra que lhe trouxera tantas reflexões e declarou diante de si próprio, da sua consciência e do seu PENSAMENTO.

- Como eu estava errado, solenemente prometo corrigir-me e me transformar em um novo maçom; na verdade, somente posso fazer apenas uma afirmação, tudo o que eu pensei saber de maçonaria, é pouco, pois na verdade ouso afirmar convictamente:

 “TUDO O QUE SEI, É QUE NADA SEI SOU UM GRANDE IMPOSTOR” A partir de hoje o meu lugar em loja não será mais aquele que eu pensava ser merecedor por direito.

“O MEU LUGAR SERÁ NO TOPO DA COLUNA DO NORTE, COMO O MENOR DOS APRENDIZES DA ARTE REAL.”

Naquele instante nasceram em seu coração os mais nobres sentimentos de: “TOLERÂNCIA E HUMILDADE.”

Miranda Delgado.


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