TRONCO DA SOLIDARIEDADE


O “Tronco da Viúva” é também designado por “Tronco da Beneficência” ou “Tronco da Solidariedade”.

Ao Tronco da Viúva são lhe atribuídas várias origens, pelo que uma das mais assumidas pela Maçonaria tem origem bíblica.

Hiram Abif, mestre construtor do Templo de Salomão era filho de uma viúva. Mestre esse, que foi assassinado por três companheiros seus, por não querer divulgar os segredos de construção a que estava sujeito como mestre-de-obras.

Esse assassinato veio mais tarde a originar uma das mais importantes lendas da Maçonaria; a qual está na base da maioria dos ritos maçônicos atuais. Advindo dessa lenda, o epíteto de “Filhos da Viúva”, com que se costumam designar os Maçons.

O fato de se designar por “tronco”, deve-se ao fato dos trabalhadores afetos à construção do Templo de Salomão, os Aprendizes e Companheiros, receberem os seus salários ao final do dia, junto às colunas do Templo. Para além de que etimologicamente, “caixa de esmolas” na língua francesa também se designar por “tronc”.

Sendo que o termo “Tronco da Viúva” simboliza também uma (caixa de) esmola para socorro e auxílio das esposas (e filhos menores) de Irmãos falecidos.

Em Loja é o Mestre Hospitaleiro que está encarregado de fazer circular o Tronco da Viúva. Tronco esse, que em dado momento litúrgico de uma sessão maçônica, circula pelos Irmãos para que possam efetuar o seu óbolo na medida em que tal lhes seja possível.

Cabe ao Mestre Hospitaleiro e ao Mestre Tesoureiro, cuidarem para que ele se encontre numa situação-equilíbrio para que se possa prestar o auxílio necessário a quem dele reclamar. E como tal, o Tronco da Viúva não se quer nem muito cheio nem muito vazio.

Se o mesmo se encontrar vazio, é porque as doações não serão significativas, correndo-se o risco, de se não se auxiliar quem dele necessitar numa situação imediata. Mas se ele se encontrar cheio, é porque quem necessitar de auxílio, não o estará a receber na devida forma.

Sendo que um dos deveres do Mestre Hospitaleiro é o de bem aconselhar o Venerável Mestre sobre os fins a darem às importâncias obtidas na circulação do Tronco da Viúva em Loja. A quem ou as quais sejam Irmãos ou Instituições Sociais de que os necessitem.

Essa também é uma das funções sociais da Maçonaria. Ajudar outras instituições carenciadas que necessitem de auxílio; não procurando o Maçom o reconhecimento de tais atos, pois a soberba não deve existir nas suas ações. O Maçom assim faz, porque simplesmente acha de que o deve fazer, não porque procura méritos ou benefícios com isso. Sendo que, por não se procurar reconhecimentos ou assumir falsos méritos, é que a caridade maçônica sob a forma de tronco é feita de forma reservada, nunca devendo um Maçom mostrar o que deposita no Tronco da Viúva.

Quem procurar reconhecimento deve procurar outro sítio para fazer a sua solidariedade, a sua caridade.

O Tronco em si mesmo, é uma forma de Solidariedade, ele lembra ao Maçom, que a beneficência e a solidariedade devem estar presentes ao longo da sua vida, fazendo ambas as parte dos deveres do Maçon. Além de que, na circulação do Tronco da Viúva em Loja se relembrar ao Maçon. que ele deve ser generoso e caritativo.

Por isso, quando um Maçom faz o seu óbolo, ele deve dar um pouco de si também. Mas nunca com o pensamento de que um dia se necessitar, terá algo a que se “agarrar”. O Tronco da Viúva não serve de ”almofada” para os Maçons.

Não devendo eles se aproveitar da sua existência, para mais tarde o utilizarem sem razão aparente.

Quando um Maçom faz a sua entrega, a sua dádiva para o Tronco da Viúva, a única coisa que deve ter em mente, é o de partilhar um pouco de si mesmo e do que tem com os demais Irmãos.

Mas apesar de não ser uma obrigação principal da Maçonaria, pois a mesma não é uma IPSS, cabe ao Maçom ter um espírito solidário com quem dele necessite. Por isso mesmo, a missão do Tronco da Viúva, é a de ajudar um Irmão que necessite de auxílio.

Mas para alguém puder ser ajudado, é também necessário que o Irmão em causa reconheça a sua necessidade de auxílio. Mas, nem sempre quem precisa de ajuda, o solicita. A vergonha ou inclusive o orgulho, são em grande parte dos casos, o “travão” pessoal à procura de auxílio.


Quem precisa de ajuda, deve por para “trás das costas” tais sentimentos, pois agindo assim, corre o sério risco de perder toda a ajuda que necessitar. E hoje em dia, devido à forma acelerada de como vivemos as nossas vidas, nem sempre nos é possível perceber quem necessita da nossa ajuda.

Todos nós em certas alturas da Vida passamos por momentos em que fraquejamos ou que a nossa força mental não nos consegue ajudar a suportar o dia-a-dia.

É principalmente nesses casos que o Maçom deve ajudar os seus Irmãos. Tentando se aperceber com a sua iluminação, quem necessita mais dele. Mas essa ajuda nem sempre deve ser (ou pode ser…) financeira, mas antes moral ou espiritual, pois nem todas as carências de um Irmão são pecuniárias ou materiais.

Muitas vezes apenas alguém necessita de uma palavra de inspiração, uma “palmada nas costas” ou um simples gesto de afeto e carinho. Tais gestos com certeza não podem ser depositados num saco, devem-no antes ser entregues (pessoalmente) ao Irmão necessitado. É amparando o seu irmão, que o Maçom lhe demonstra a sua solidariedade e vive o espírito de fraternidade que a Maçonaria lhe oferece.

Tal como afirmei anteriormente, a Maçonaria não é um INSS.

Antes é uma Instituição que promove a Solidariedade, a Beneficência, a Fraternidade. E como tal, a sua principal missão é ser solidária com os seus membros/Irmãos. Sendo assim, não deve uma Loja virar as costas a um Irmão que esteja em apuros, devendo antes, correr em seu auxílio e o amparar na resolução dos seus problemas. E é para isso que fundamentalmente existe o Tronco da Viúva.

A única obrigação que ele tem, é a de ser bem utilizado!


Gabriel Campos de Oliveira

"O HOMEM E O SAGRADO"


Ivan Golub, um sacerdote croata, delicado poeta contemporâneo, escreveu recentemente:

 "Deixa os caminhos ao por do Sol e calça as gastas sandálias negras.                
A tudo que se diga, presta atenção e permanece atento; pode ser Deus que te fala!
Abre-te ao Sol que nasce e, ao meio dia, junta as tuas mãos”.

“Os sinos chamam ao trabalho agora, também Deus tem desejos de falar”.
( Tradução de "Ocii" - " Os Olhos", ed. Naprije, Zagreb, 1995 )

Este homem, com a alma destroçada pelos horrores de uma guerra fratricida na ex Iugoslávia, guerra alimentada por ferozes ódios raciais e religiosos, nos exorta a nos encerrarmos em n/ egoísmo ou em n/ medo, senão escutar a palavra de Deus, "O Verbo" por antonomásia.

Uma exortação que, como iniciados, compartilhamos totalmente.

De fato, nas Lojas Maçônicas, os trabalhos rituais não podem começar senão depois que a Bíblia, aberta no Evangelho de São João, tenha sido posta sobre o Altar. No primeiro versículo se lê: "No princípio era o Verbo", que se deve entender como "O Alento Divino, de tudo, O Criador " e também como energia imanente e eterna da qual tudo provém e ao qual tudo retorna.

Segundo a etimologia latina, "verbum" significa essencialmente palavra e esta é algo mais que um simples sopro, por que se articula em um ou mais sons que a compõe e a qual define o conceito nas diferentes línguas, de modo que ela constitui o principal e mais imediato instrumento de comunicação entre os homens.

Se nos aprofundarmos na sua análise, as três primeiras letras ver, podem conter o significado de primavera, a estação que representa o renascimento da natureza depois da letargia invernal, à progressiva regressão das sombras até o triunfo da luz, quando começa o verão.

Podemos dar-nos conta então, da união e da profunda afinidade entre muitos vocábulos, que sempre chamam à mente, o conceito de criação como no momento sublime da presença divina, a qual, manifestando-se através da luz e iluminando tudo, dá significado à maravilhosa evolução da vida.

Todas as sociedades iniciáticas – entre elas e em primeiro lugar a Maçonaria – planejam seus rituais sobre a simbologia da luz, como conhecimento, verdade, crescimento e, por fim, aperfeiçoamento espiritual, pressuposto fundamental do aperfeiçoamento material; não é casual, se do fogo purificador, o mais significativo dos quatro elementos primordiais – brotam a luz e o calor.

De uma cuidadosa observação da Natureza – imutável em suas leis, às vezes, aparentemente cruéis mas, sempre admiráveis por que correspondem a um projeto divino, ordenador do universo, o homem aprendeu tudo isso que, segundo o grau de civilização alcançado, o levou desde uma estática e quase messiânica aceitação de eventos supinamente aceitos, porque impostos por um Ente Supremo, terrível e desconhecido, até uma busca do por que e como de tais eventos e a maneira de recria-los.

As respostas da ciência, frutos de estudos e experimentos sempre mais aperfeiçoados e muitas vezes, de geniais intuições ou de causas de todo fortuitas, nos ajudaram muito a nos aproximarmos do conhecimento de nossa essência, de nossa origem e de nosso destino final.

Todavia, de uma parte, permanecem as interrogativas sobre o quando, como e por que o Verbo, que a Bíblia afirma, foi o princípio, quis Ser e se materializou e, por outro lado, as interrogações, sobre a duração de nossa aventura terrestre – únicos habitantes no momento – no espaço.

As escolas iniciáticas, como a Maçonaria, empenhadas sempre, na resolução destes angustiosos  enigma através de um estudo adogmático gradual e sistemático dos símbolos e das alegorias, guiado por Mestres capazes, conduzem os adeptos, crentes num Ser Supremo, através de um largo e dificultoso trabalho à escavação do próprio Eu para conhecer a si mesmo, limpar-se de toda  impureza e preparar-se à compreensão dos grandes mistérios que o levam ao inescrutável, mas consolador projeto divino.

A elevação do homem até o sagrado se dedicam também as religiões, especialmente aquelas monoteístas que, sem dúvida, não admitem outro ensinamento senão aquele transmitido, sobretudo oralmente, por um daqueles Grandes Espíritos, iluminados por uma inspiração divina que, na historia do mundo, se destacam na imponência de um Buda, um Confúcio, um Cristo, um Maomé.

A sociedade atual aparece impregnada por um profundo “materialismo”, por uma febre de conquista, bem estar, de êxito, do domínio econômico e político, custe o que custar, com qualquer meio, sem limites para exercer a violência contra todos e sem nenhum remorso moral, como num perverso fenômeno de multiplicação de exemplos negativos, favorecido por um sistema de comunicações, dia a dia, veloz e penetrante que se identifica com o nome de cidade-global. 

Com tudo isto, também nas camadas menos sensíveis da população mundial percebe-se haver chegado ao cume, um sentimento de insatisfação até àquelas, que há pouco tempo se consideravam conquistas do progresso, mas que se revelaram,  intenções atrevidas do Homem, que se autoproclamou rei do universo, para submeter, ao seu insaciável desejo de sobrepujar, as imutáveis leis da natureza.

E é agora, quando os progressos da técnica nos avizinham sempre mais a aterrissagem do primeiro homem em outros planetas, para descobrir, sobretudo, outros seres originados pelo mesmo alento divino que nos criou que se tem um angustioso sentimento de solidão e às vezes de insegurança que estimula uma busca com afã, da origem e do destino final do homem.

Em todas as partes e sempre com maior intensidade se interroga sobre o porquê estamos aqui – em que base e qual o misterioso projeto e com qual finalidade: a necessidade de uma certeza que possa demonstrar a veracidade das promessas da fé não favorece tão somente um novo descobrimento das religiões, que sempre se apresentaram como caminhos da salvação indicados por Deus, favorecem também a proliferação de seitas, de magos e de uma literatura a miúdo, de duvidosa seriedade para não dizer perigosa.    

Ao fim do primeiro milênio o terror do fim do mundo se apossou de uma humanidade inculta e supersticiosa, convencida do inexorável castigo divino por todos os pecados cometidos. Deus era considerado como um juiz implacável e inalcançável.

Hoje, no umbral do terceiro milênio, uma humanidade mais madura e enriquecida pela evolução do pensamento e pelas conquistas da ciência, que tem revelado a incomensurável inteligência do Ser Supremo na criação do Universo e desse maravilhoso microcosmo que é o homem, se apresenta encantada e confiante em Deus para tentar captar a mensagem de luz e amor da qual sempre sente mais uma enorme necessidade.

Os iniciados, e, em particular os Maçons, tem sempre se dedicado em todo o mundo na busca do Sagrado e não podem senão congratular-se por este florescimento da espiritualidade, à qual concorrem as religiões, sendo que a finalidade dos trabalhos da Loja é o melhoramento da Humanidade através da elevação moral, espiritual do indivíduo. 

E volvendo o olhar até nosso país (Itália), somos profundamente contentes em constatar, que à 127 anos, aquele fatídico 20 de Setembro de 1870 – considerado por todos os italianos, por que foi o início da unificação, evento que contrapôs, vivamente, católicos e leigos – representa no entanto a queda do poder temporal, quanto a benéfica instituição da mais apropriada missão pacificadora do gênero humano, que tem sede de espiritualidade.   

De outra parte, dos indômitos patriotas, celebrados Pais da Pátria hoje, todavia, venerados em todo o mundo como baluartes da fé, na liberdade e na dignidade do Homem, não haviam podido conceber e realizar tantos memoráveis feitos, se não tivesse o culto de Deus e da Verdade.

Nosso Grão Mestre Giuseppe Garibaldi, do qual recordamos este ano o 190º aniversário de seu nascimento, deixou escrito: "Quem pode por limites aos tesouros concedidos por Deus ao homem, ou limitar também os seus portentosos mistérios? Ou seja, minha alma é um átomo da alma do Universo.

Esta crença me enobrece, me eleva sobre o miserável materialismo; me infunde respeito pelos outros átomos, emanações de Deus, e me concita a meditar na multidão de átomos que me semeiam e que, com o exemplo, mais que com a doutrina, devem fazer o bem por que, por essência, pertencem ao Eterno "Benefactor" e por que poderei ter ciúmes da mariposa, muito mais bela do que eu, se ao Onipotente apraz dota-la de uma alma?           

O outro grande italiano, Giuseppe Mazzini, do qual somente nós Maçons – ante a indiferença e no silêncio da Itália oficial – comemoramos solenemente em Março passado, um conclave internacional em Gênova, o 125º aniversário de sua morte- foi um espírito verdadeiramente religioso, o mais alto dos tempos modernos. "A essência de toda religião, - escrevia, -  está na força, desconhecida da ciência pura, de induzir os homens a traduzir os feitos, os pensamentos, a harmonizar a vida prática com o conceito moral".

Para Mazzini, toda fé – como observava Ugo Della Seta – girava em torno de duas certezas transcendentais: a existência de Deus e a imortalidade da alma. Mas seu Deus não é um Deus prisioneiro dos dogmas das diversas teologias; é um Deus de vida e sua ação é incessante, sua revelação contínua e a revelação deverá assinalar na humanidade, um maior grau de educação e de elevação espiritual.

Seguindo os passos do Maçom Lessing, o Deus de Mazzini não pede aos fieis a crença em algum dogma, nem a participação em certos ritos; pede a santidade da vida testemunhada pela santidade das obras.

Embora não se comprove a sua iniciação, Mazzini foi um dos mais sensíveis interpretes da moral do Maçom, esta que o Ir.’. Johann Gottlieb Fichte capta tão eficazmente em sua peculiaridade de homem que deixa de ser religioso para elevar-se à dignidade de homem universal que, sem dúvida, conserva sua própria religião.

O Grande Oriente da Itália, organizou em Roma (novembro de 1996) um grande Convênio Internacional sobre as respostas da ciência às três questões existenciais: Quem somos?, de onde viemos?, para onde vamos?. No estado atual dos descobrimentos e das intuições, a ciência tem chegado à identificação de partículas da matéria, sempre mais microscópicas, mas se interroga, todavia, por que, esta energia vital que está na origem do universo e por que, aquelas partículas estão em vertiginoso movimento.

Esta energia não deixa estupefato nem preocupado ao Maçom, por que através de incessante trabalho de busca interior realizado no Templo, é capaz de acercar-se do mistério, que a milênios assombra o homem, fazendo evidente a existência de Deus e chegando a isto, não por um ato de fé, mas por uma convicção madura.

Não é por acaso que um dos maiores iniciados e pensadores, Pitágoras de Sam os, teórico da identidade do macrocosmos e do microcosmos e da alma universal do mundo, da qual se separa e à qual retorna a alma individual, depois da viajem no invólucro mortal do homem, exortava a olhar o céu como fonte de iluminação e sabedoria.

É esta sabedoria que nutre o ânimo do Maçom, conferindo-lhe esta serenidade e força moral que o guiam em seus passos pelo mundo profano. A incessante busca do sagrado, ao qual se dedica com exaustiva ânsia de melhoramento de si e dos outros, o aperfeiçoa cada dia fazendo dele um ponto seguro de referência e de comparação com todos os outros homens de boa vontade.

A ética que o envolve, leva o Maçom a repudiar a contaminação de tráficos ilícitos, do revanchismo, do materialismo, do poder conquistado ilicitamente, privilegiando ao contrario, a dedicação desinteressada no próximo, mais ainda se este é desgraçado e sofredor, e o enriquecimento cultural, ligado ao desejo de conhecimento de si mesmo e dos outros, para transferir no mundo profano esse extraordinário patrimônio de beleza, bondade e verdade conseguidas durante o caminho iniciático. 

Seu espírito altruístico o torna particularmente sensível ao crescimento material e espiritual, mas, sobretudo à defesa da liberdade de todos, por que se sente, enquanto filho de um mesmo Pai, irmão da humanidade inteira sem distinções de raça, religião, sexo, idade ou condição social.

O Maçom que, sempre e mais que qualquer outro ser humano, está possuído de um espírito universalístico, pode e deve acercar-se dos jovens, que são a certeza de um futuro melhor, para defendê-los da massificação atual, para infundir-lhes o desejo e o prazer da busca do sagrado que, como o difícil caminho iniciático, a formação do homem verdadeiro, é uma conquista individual e garantia de autenticidade, embora se esteja perdido em um mundo levado a uma globalização exaltada com excessivo entusiasmo. 

Mas esta indispensável e urgente obra de educação e de preparação da juventude, às excepcionais responsabilidades que a esperam, não pode realizar-se senão seguindo um percurso desde há tempos, indicado por nos: A Exaltação do Espírito Humanitário.

A sensibilização aos valores fundamentais da liberdade, da igualdade, da irmandade, da tolerância e da difusão de uma cultura interdisciplinar vivificada por um seguro substrato ético. 

O empenho dos Maçons do Grande Oriente da Itália do Palácio Giustianiani será, então, sempre mais concentrado na potencialização, por um lado, de todos aqueles organismos filantrópicos e solidários existentes como são os Abrigos Noturnos de Torino, O Pão Cotidiano de Milão, a Assistência aos inválidos e enfermos em fase terminal, e de outro lado, aquelas iniciativas culturais como a Liga Internacional para os Direitos do Homem, As Universidades Populares dispersas em tantas cidades Italianas, o Centro de Estudos e Investigações da Universidade Internacional Pitágoras em Crotone, concebido precisamente para formação de dirigentes públicos e privados, dotados da visão panorâmica dos problemas visando a sociedade do Terceiro Milênio, A Revista "Maçonaria Hoje", os convênios sobre personagens de reconhecida grandeza moral e igualmente, sobre temas de particular importância internacional, como aqueles da Liberdade e da Maçonaria em um mundo em evolução, e, com respeito aos jovens, as Ordens de Molay (p/ rapazes) Rainbow and Job's Daugthers (p/ moças). Pensamos também em instituir escolas e organizações de voluntários e de saúde.

Não podemos concluir esta alocução celebrativa do Equinócio de Outono, para nós Maçons, tão rico de significados esotéricos e de reativação dos trabalhos rituais, sem recordar que a fatídica data de 20 de Setembro representa também um evento fundamental na historia de nosso país: a invasão dos "bersaglieri"(*) através da Porta Pia , com a qual conquistou a tão querida, suspirada e sofrida unidade, a custa das vidas de tantos patriotas entre eles, numerosos Maçons.

Esta unidade que nos levou a categoria de Nação moderna independente e respeitada, o significado que recordamos em Dezembro de 1996 em Montecatini, no Convênio Organizado pelo Colégio de Veneráveis Mestres de Toscana, não pode sofrer o ônus que algumas mentes obscuras, quiseram infligir aduzindo motivos substancialmente racistas e intolerantes e por isso inadmissível, ligado à questão meridional cronicamente esquecida, mas que se deve enfrentar com urgência e firme vontade de solução e com um espírito de solidariedade e de valorização dos enormes potenciais do Sul. Também no setor, tão vital para o futuro de nosso país, cada Maçom deve sentir-se permanentemente mobilizado.    

A concepção maçônica de Pátria, raiz insuprimível de tradições comuns, etnias, civilização, é um patrimônio das consciências dos italianos. Até a igreja católica que julgou pernicioso aquele fatídico 20 de Setembro de 1870, hoje está compacta e da parte de quem como nos, a defendemos contra os atentados de nossa autenticidade. 

A dívida de reconhecimento aos Pais da Pátria e daqueles irmãos que difundiram e defenderam os ideais imortais de liberdade, igualdade e fraternidade, é inextinguível e deve ser um legado as jovens gerações com a consciência de que, graças a eles, a Itália se elevou à dignidade de Nação e que a Maçonaria regular pode e deve com todo o direito reivindicar seu insubstituível papel de guia moral na defesa contra indevidas interferências em nossa amada Itália, livre, sã, límpida, operosa, justa na Europa unida, para criar um mundo segundo os projetos divinos, vaticinados por Giuseppe Mazzini e Giuseppe Garibaldi, em paz, progresso e fraternal.    
    
Com a desventura do integralismo, que tantas vítimas inocentes fez em toda parte, junto com a indiferença, o egoísmo, o ódio e a violência, nosso planeta corre o risco de se embrutecer sem remédio. Devemos conjurá-lo, tendo em conta as diversidades e através da tolerância o respeito da liberdade e da dignidade do Homem, virtudes sempre praticadas por todos os Maçons. 

Deixemos os caminhos ao pôr do sol que surgirá tímido no Solstício de Inverno e iluminará triunfante a Terra na pujante primavera, escutemos tudo que digam os homens de boa vontade: é o Verbo, é Deus, é o Amor universal!

  (*) Soldados de um corpo de caçadores, caracterizados pela mobilidade e rapidez das ações.

VIRGILIO GAITO
Copiado e traduzido p/ Ir.’.Josemar Pezzi M.’.I.’.- Gr.`. 33



O MOMENTO EM QUE A CARNE SE DESPREENDE DOS OSSOS


Só umas palavras antes que sigas teu caminho, te servirão quando chegar ao momento de tua viagem final.


De todos os modos, a morte chegará para ti. Talvez aconteça durante o sono, ou repentinamente, enquanto estás em atividade.  No entanto é muito provável que parecerá perder a consciência e permanecerá nesse estado até que teu corpo morra. 

Primeiro veja a condição de teu corpo e entenda que tua morte é inevitável. Tudo está terminado, enfrenta-te com isso. Teu corpo está acabado ou irreparável, não pode seguir. De todas as maneiras, foi somente uma refinada máquina que usaste para existir. Todos os que morreram antes de ti, desde o começo dos tempos, se foram deste modo. Não tenhas medo, é completamente natural. 

Morrer, como nascer, é um fato para ti. Quando começa te sentiras sustentado num processo. Não podes deter-lo do mesmo modo que não conseguiste parar as ondas em que nasceste tampouco as dores do parto de sua mãe.  Se sois uma mãe, sabes quão impotente estavas quando as contrações começaram em teu corpo. É assim com a morte, só que as contrações não são fisicamente dolorosas.

Relaxa-te, quando iniciar não tentes olhar para fora. Observa todos os movimentos interiores e as sensações, focaliza ali toda tua atenção. Sucederão muitas coisas extraordinárias que não poderias descrever ainda que pudesses falar. Deixa que o processo cuide de ti completamente, tu és o "bebe" desta vez e está indo para um novo nascimento. Sente-se na primeira fila em teu interior, diante do assombroso espetáculo da morte de teu corpo e observe a mudança ainda mais assombrosa que está acontecendo contigo, que está observando.

Entrega-te. Está tudo fora de tuas mãos. Ignora qualquer sentimento que tenhas de ter que fazer ou comunicar algo, te causará tensão, e a tensão, tal como o medo, fará com que perdas o que está acontecendo lá dentro. Recorda-te, o propósito da morte, a arte de morrer, é que permaneças consciente em teu interior todo tempo. 

O medo e o pânico causam inconsciência, esta e a proteção da natureza, por isso desmaias. Mas, então, perdes muito da maravilha, da pura energia da experiência. Em cada vida tens uma só oportunidade de morrer. É um tempo precioso e é um dom precioso, como verás. A morte é a experiência culminante do viver, a oportunidade última de perceber por ti mesmo a verdade completa por trás da existência. 

Quando pareces estar inconsciente para o mundo, ainda estás consciente de ti mesmo. Pode que percebas teu corpo e as pessoas que estão no local, como descrito acima, mas gradualmente a cena diminuirá e desaparecerá e, de todo modo já não estarás mais interessado nela. 

Em seguida, há um período de sonhos, mas não podes ver a diferença entre o sonho e a realidade que conhecias tua memória do mundo, agora se desvaneceu. Estás no subconsciente, por debaixo da memória, e é tão real como estar vivo de novo, só que é diferente. Podes voltar a viver eventos de tua vida ou viver experiências associadas com os conceitos de céu e inferno, ou seus equivalentes. 

Finalmente, farás a viagem através da morte. A morte é negra. A morte é aterradora porque nela não há mais além de ti. Parece interminável porque não há movimento aparente. No entanto, se estás em quietude, te darás conta de que sois mais forte, mais livre, mais dono de si mesmo, mais consciente que nunca da realidade de ti mesmo. Tu sabes que és o que és de uma forma que nunca soubeste enquanto estava vivo. 

A morte é uma longa e negra passagem para a vida, para a qual tudo o que viveu retorna. Se puderes encontrar suficiente amor ou consciência em ti mesmo, permanecerás consciente e te darás contas, na medida em que mais e mais te aprofundes, que já estiveste aqui muitas vezes antes. No entanto, se teu amor não é suficiente para manter-te desperto, estarás inconsciente. E quando a viagem através da morte se concluir, te despertarás em um mundo equivalente ao amor e a consciência que és. Sentirás-te mais em casa que nunca antes em tua vida. De qualquer maneira que ides consciente ou inconsciente, chegarás ao fim da viagem. 

Então, te darás contas de que o amor é o que há de mais importante na vida, e que o mundo dos vivos  existe para a exteriorização de mais amor. Verás quão distante estás do amor e quererás dizer a todo mundo o que então descobriu. Mas isso não será possível porque tens que descobrir-lo, declarar-lo e viver-lo enquanto estais vivo. Cada um deve descobrir por si mesmo o segredo do amor, se não o faz antes de morrer, depois a ninguém pode ser dito.

Na medida em que amaste verdadeiramente aos outros sobre a Terra e eles a ti, serás capaz de chegar a eles e influenciá-los. Mas encontrarás que o mundo dos vivos é um lugar muito morto para tentar atravessar com a mensagem do amor verdadeiro.
No entanto, segundo a força de teu amor, seguirás tentando, até que um dia no tempo da Terra, voltarás ao mundo dos vivos em novo corpo físico, outra fina máquina, e passarás tua vida nele, tentando recordar a poderosa lição que aprendeste ao morrer: que o amor é tudo.

Alegra-te, enquanto estás indo, caminhando... Não há morte.


Ir.: Milton C. Lopes

OS “TAUS” NÃO SÃO TAUS


É comum ouvirmos designar as três formas geométricas que decoram o corrente avental de Mestre Instalado por "Taus". Tau é a décima nona letra do alfabeto grego, graficamente muito semelhante ao latino "T".

É claro que já tinha notado que as ditas formas geométricas no avental de Mestre Instalado estavam invertidas em relação à forma gráfica do Tau, apresentando o elemento vertical sobre o elemento horizontal, enquanto que na dita letra do alfabeto grego o elemento horizontal está sobre o elemento vertical.

Mas confesso que não dei grande importância ao assunto e não procurei aprofundar a razão da notada discrepância. Até que recentemente li um excelente texto de um não menos excelente e conhecedor maçom brasileiro, Kennio Ismail, publicado, já desde outubro de 2011, no seu muito elucidativo blog No Esquadro, com o título Desvendando o "Triplo Tau".

A tese exposta nesse texto pelo Irmão Kennio Ismail é que, afinal, as ditas formas geométricas não são Taus, não têm nada que ver com essa letra do alfabeto grego, antes reproduzem algo que tem diretamente muito mais que ver com a Maçonaria, uma ferramenta utilizada pelos maçons operativos, especificamente o Esquadro T (em inglês: T-square), também designado por Régua T, ferramenta que, além de se utilizar para desenhar ângulos retos, é útil para desenhar retas paralelas.


Como se vê pela imagem de duas réguas T, também há diferença em relação à representação no avental de Mestre Instalado, não em relação à disposição dos elementos horizontal e vertical (já que, a régua T pode ser posicionada em qualquer sentido), mas em relação à dimensão e proporção do elemento vertical, sensivelmente maior na régua T que na representação no avental. 

Mas o raciocínio exposto pelo Irmão Kennio Ismail parece-me lógico: uma vez que a simbologia maçônica é inspirada na Maçonaria Operativa e nas suas ferramentas, tem mais cabimento que se considere que no avental está triplamente representada uma ferramenta do que uma letra grega...

Pontua seguidamente o referido Irmão que também o vulgarmente designado Triplo Tau do Arco Real 


não é afinal um Triplo Tau, mas sim um "T" sobre um "H", sigla de "Templum Hierosolymae", que em latim significa "Templo de Jerusalém", ou seja, o Templo de Salomão.

Esta hipótese parece-me um pouco mais rebuscada. Ou seja, considero-a possível, mas não beneficiando da simplicidade da referência direta a uma ferramenta operativa que, e a meu ver com muito peso, suporta o argumento anterior. Com efeito, entre várias explicações possíveis, a experiência mostra-nos que, na maior parte das vezes, a mais simples é a correta.

É isso que me faz propender para a aceitação da tese de que as formas geométricas no avental de Mestre Instalado possivelmente representam réguas T e não Taus. Já no caso do Arco Real, a hipótese alternativa não só não tem a vantagem da simplicidade como apresenta a dificuldade de o pretenso "H" estar muito deformado, demasiado largo...

Não sou particularmente versado no Arco Real (a minha praia é o Rito Escocês Antigo e Aceito...) e assim abstenho-me de dar opinião definitiva sobre esta segunda situação. A meu ver, a melhor explanação sobre o assunto (ainda assim não conclusiva) é a que se encontra no artigo "1868 Sterling Silver Mark Master Keystone", que encontrei no também muito interessante síte http://www.phoenixmasonry.org/, (administrado pelo ilustríssimo maçom Frederic L. Milliken) e de que traduzo a passagem mais relevante, no meu entendimento:

A Cruz de Taus, ou Cruz de Santo António, é uma cruz na forma de um Tau grego. O Triplo Tau é uma figura formada por três destas cruzes unidas pelas bases, assim se assemelhando à letra "T" sobreposta na barra transversal de um "H". Este símbolo, colocado no centro de um triângulo inscrito num círculo - ambos símbolos da Divindade - constitui a jóia do Arco Real, tal como praticado em Inglaterra, onde é tão estimado que é considerado o "símbolo de todos os símbolos" e "o grande símbolo da maçonaria do Arco Real".

Foi adotado nessa forma como emblema do Arco Real pelo Grande Capítulo Geral dos Estados Unidos em 1859. O significado original deste símbolo tem tido variadas explicações. Alguns supõem que ele inclui as iniciais do Templo de Jerusalém, "T" e "H", Templum Hierosolymae; outros que é um símbolo da união mística do Pai e do Filho, "H" significando Jehovah e "T", ou a Cruz, o Filho. Um autor no Moore's Magazine engenhosamente considera-o ser uma representação de 3 Réguas T, aludindo às três joias dos três Grão-Mestres (da Lenda da construção do Templo de Salomão: Salomão, Hiram, rei de Tiro, e Hiram Abif). Também tem sido dito ser o monograma de Hiram de Tiro; e outros sustentam que é apenas a modificação da letra hebraica shin, que é uma das abreviaturas judaicas do Nome Sagrado.  

Como se vê, interpretações há muitas... Quais são, nas duas situações, os significados corretos? No meu entendimento, também aqui se aplica o que eu considero dever ser a regra básica da interpretação simbólica em Maçonaria: não há significados obrigatoriamente corretos. Cada um analisará, tirará as suas conclusões, atribuirá a cada símbolo o significado que entender mais adequado. O significado correto para si é esse.

O que não impede que o significado correto para outro Irmão seja outro, total ou parcialmente diferente. Nos casos referenciados neste texto, para o Irmão Kennio Ismail, os significados corretos são os que ele indica, a régua T no avental e "T" sobre "H" no símbolo do Arco Real. Quanto a mim, e no meu atual entendimento (em matéria de interpretação simbólica considero estar permanentemente em work in progress), no avental concordo estar representada triplamente a régua T, mas, quanto ao símbolo do Arco Real, ainda me mantenho ao lado da interpretação mais difundida, do triplo Tau. E daí não vem qualquer mal ao Mundo: a interpretação do Irmão Kennio Ismail é a correta para ele, a minha é a que eu acho correta para mim.

E ambos, ora aqui concordando, ali debatendo, vamos percorrendo os nossos caminhos que, sendo diferentes, vão na mesma direção e têm muitos trechos comuns. 

Rui Bandeira


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